Por: Edel Holz* – Lucimara era uma mulher tímida que não conseguia ser uma pessoa muito sociável. Ela ficava sempre no cantinho dela, cuidando de sua casa, de seu marido, de seu filho de dois anos, razão da sua vida… Alguma coisa lhe dizia pra não sair de casa naquele dia. Pra ficar assistindo sua novela das nove, pra conferir o que o vilão iria aprontar naquela ocasião, mas ela não entendia porque aceitou o convite da Ana Nilce pra ir àquela festa. Era um aniversário de criança, com balões, brigadeiros, mágicos e palhaços, mas tinha muita bebida, dança e claro que no meio da festa, rolou um funk.
Lucimara tomou um cocktail de coco, outro de maracujá e mais um de leite condensado… Afinal, eles iam pegar um táxi depois da festa, pra que não precisasse dirigir com bebida na cachola. Ela dançou de ladinho, de ré, de frente, de tudo quanto é jeito…
O marido estava conversando com os outros homens, entretido jogando sinuca, numa sala separada do salão onde rolava a festa e Lucimara estava ali, sozinha, dançando no seu próprio mundo.
De repente, o pai da criança aniversariante, o Cachaça, chegou por trás dela e disse com toda a discrição que lhe era peculiar: “Todo mundo tá comentando, não fala pra minha mulher, mas você tá tão gostosa. Igualzinha à Mulher Melancia”.
Lucimara ficou estatelada, o fogo até passou. Ela não sabia se esbofeteava a cara do homem ou se guardava só pra ela aquele comentário pecaminoso. Afinal, ambos eram casados. Por um momento, ficou confusa. Pensou que ‘Mulher Melancia’ era mulher peituda, com as tetas siliconadas, tipo Pamela Anderson. Raciocinou: – Não, não pode ser não tenho peito… Mas depois, ela se tocou e viu que a Melancia era o seu quadril, a sua bendita bunda enoormee, que ela tanto repudiava. Foi aí que ela se sentiu a rainha da cocada preta, a dona da Sapucaí.
A mãe do aniversariante, a Ana Nilce, era reta, sem bunda e sem peito nenhum e vivia falando pra Lucimara fazer regime, que nenhum homem gostava de mulher gorda e bunduda. Pois Lucimara estava na moda agora que o marido da Ana Nilce demonstrou gostar mais de mulher carnuda. Lucimar viu que não estava jogada às traças.
Todos os homens a notavam, as mulheres a invejavam. Naquele momento, ela era a mulher fruta da vez. Seu marido continuou conversando e bebendo, nem percebendo que sua mulher era o centro das atenções. Enquanto isso, Lucimara mexia sua melancia pra lá e pra cá, se sentindo a última bolacha do pacotinho. Ela não queria que aquele momento acabasse jamais. Afinal, não é todo dia que ela é chamada de ‘Mulher Melancia’.
O encanto só acabou, quando Juninho fez cocô, chamou pela mãe e ela saiu correndo com a bolsa de fraldas, lenços umedecidos pro banheiro a foi voltando aos postos de mãe preocupada.
Depois disso, a festa estava no fim, a família de Lucimara se despediu de Cachaça e Ana Nilce. Cachaça piscou pra Lucimara como se a trouxesse de volta aos seus cinco minutos de fama. Em seu íntimo ela sabia que o Cachaça apreciava sua anca tão rejeitada por ela no passado. Mas esse era um segredo só dos dois.
* Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.