Edel Holz
Esperei passar o frenesi do dia das mães, para escrever sobre a minha. Digo frenesi, porque bastava entrar nas redes sociais pra ver fotos e textos sobre mães e para elas. Minha mãe era uma figura especial. A começar pelo nome -Emerenciana- que herdou de sua avó. Por isso o apelido Netinha.
Mamãe era linda na juventude. Parecia com Olivia de Havilland- a Mellanie de ‘E O Vento Levou’. Nós duas éramos unidas demais. Dormíamos juntas quando eu era criança. Ela tinha tanta vontade de ter uma menina após dois meninos, (Gustavo e Douglas) que eu nasci. Com 3 anos de idade, tive convulsão por ter engolido água no parto e o médico disse que eu tinha 6 meses de vida.
Mamãe pegou o primeiro avião pro Rio (avião naquela época não era como hoje) e me levou no Dr. Delamare – o do livro do bebê. Ele lhe disse que eu viveria muitos anos e receitou um remédio que tomei por 17 anos.
Quando me mudei pro Rio, aos 20 anos, mamãe mandou por Sedex minha festa de aniversário: bolo de frutas, empadas, olhos de sogra…O bolo azedou, as empadas viraram paçoca e os olhos de sogra foram os únicos sobreviventes.
Ela ia sempre ficar comigo no Rio e numa ocasião, eu estava namorando um cara lindooo e depois que ela dormiu, estávamos no maior amasso na sala e escutamos uma barulhada na cozinha. Era ela fazendo barulho pra atrapalhar nosso chamego.
Eu perguntei: “Mamãe você beijava papai de língua? Pois ela não respondeu”.
Cinco dias depois, antes de dormir, do nada, disse:”Sim!”
Eu retruquei: “Sim o quê?”
E ela: “Sim, eu beijava seu pai de língua“.
Morri de rir. Ela dizia que não peidava, mesmo quando sabíamos que era ela. Amava tudo do bom e do melhor e adorava gastar. Acho que puxei pra ela em muitas coisas. Nisso então… Mamãe tocava piano, acordeom, desenhava e coloria muito bem, cantava afinadamente e sua comida era de comer rezando.
Seus livros de receitas eram desenhadinhos e escritos à mão. Tratava todo mundo com carinho e minhas amigas eram doidas com ela.
Para mim, ela foi a melhor mãe do mundo! Minha saudade é do tamanho de um bonde. Trem é maior que bonde? Não? Então minha saudade não cabe no mundo!
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.


