Por: Edel Holz
Selton e eu temos muita coisa em comum, mas a primeira ė que nascemos na mesma cidade: Passos, Minas Gerais, escolhemos a mesma profissão e nossas famílias são muito amigas. O Tio dele, Silas, era o melhor amigo do meu irmão Gustavo, e levava Selton para onde ia.
Seus pais, Dalton e Selva, mudaram-se para Sampa, para investirem nas carreiras dos filhos: Selton e Danton. Selton ganhou o papel de filho de Antônio Fagundes e Dėbora Duarte na novela das 8 na Globo “Corpo a Corpo” e quando chegava em Passos, todo mundo queria falar com ele.
Desde pequeno era celebridade. Danton foi neto da Odete Roitman em Vale Tudo (entre outros) e sempre demonstrou seu talento em seus trabalhos. Quando fui morar no Rio, sempre esbarrava com Selton aqui e ali. Éramos vizinhos em Copacabana, ele ia no meu apartamento quando os amigos em comum de Passos chegavam.
Um dia, ele comentou comigo que nunca havia experimentado o tablado, que era cria da Tv e eu lhe disse: “Selton ,o teatro ė ao vivo, sem flash back e a gente sente um trem que nenhum outro veículo nos faz sentir”.
Ele me pediu emprestado meu texto “Romeu e Julieta“ de Shakespeare, traduzido por Millor Fernandes e montou com a turma da Maria Clara Machado no Tablado. A Julieta era Ana Kutner, o Romeu- Danton e Selton interpretou Mercuccio. Foi um sucesso e eu nem pude ver, porque apresentava uma peça na minha Escola de Teatro na mesma época.
Um dia, foi me devolver o texto e disse: “quando o Mercuccio morria e eu fui aplaudido em cena aberta pela primeira vez, me lembrei de você”.
Não existe nada igual ao aplauso! Fui com ele uma vez no Baixo Leblon, mas seus amigos eram muito mais novos que eu e me sentia deslocada. Me lembro que nos encontramos num ônibus uma vez e ele estava fazendo dublagem porque sua voz estava mudando e os papéis na Tv minguavam.
Vim pros EUA e Selton explodiu no Brasil. Crítica e público consagraram esse mineiro de coração carioca. Teve quem o comparou com Johnny Depp, mas pra mim ele ė único. Dirigiu os filmes :“Feliz Natal”, o Palhaço (onde cita Passos) e “O Filme da minha Vida”, todos com críticas arrebatadoras.
Em 2016, ficamos no mesmo hotel, em nossa cidade natal. Sophia e eu levamos “Mãe e Filha” pro palco passensse. Ele estava com toda a família na cidade. O abracei bem apertado e lhe disse, “Muito feliz pelo seu sucesso. Você merece!’.
No outro dia, eu estava nervosa, porque era o dia da estreia e Sophia vomitou a noite toda. Ele me acalmou: “Se fosse eu que estivesse estreiando na minha cidade natal, tambėm estaria doente”. Me disseram que sua Sessão de Terapia ė sensacional e agora ele está encarando o protagonista de “Nos Tempos do Imperador”, nosso Dom Pedro Segundo, numa super produção da Rede Globo.
O interessante ė vermos Selton tão jovem interpretando um personagem que somente conhecíamos velho em nossos livros de história. Tem quem pense que ele nasceu velho… (risos) É um orgulho pra nós esse menino que se transformou num dos maiores atores do nosso país, por quem eu tenho tanto carinho e um dia, espero que possamos trabalhar juntos. E por que não numa série que coloque Passos no mapa das boas histórias?
Que Selton receba nosso aplauso e que vibre emoção em cada trabalho que faça- seja atuando ou dirigindo. E que os Deuses da arte sempre o abençoem. Evoė!
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.
