AFP – O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) denunciou a decisão do governo dos Estados Unidos de deportar imigrantes e solicitantes de asilo por via aérea para o Sul do México, longe de suas fronteiras.
Os voos começaram na semana passada, com base na norma conhecida como Título 42, criada no governo de Donald Trump e que permite a expulsão sumária de imigrantes em situação irregular detidos em solo americano com base no risco de disseminação da Covid-19. Cerca de 200 mexicanos e centro-americanos foram levados de avião para o interior do país vizinho até semana passada, em voos que devem se tornar regulares.
“As pessoas e as famílias a bordo desses voos, que podem ter necessidades urgentes de proteção, correm o risco de serem devolvidas aos mesmos perigos dos quais fugiram em seus países de origem na América Central”, disse em um comunicado divulgado na quarta-feira o representante do Acnur para Estados Unidos e o Caribe, Matthew Reynolds.
Reynolds lembrou que o Título 42 foi uma medida instaurada no início da pandemia do coronavírus, permitindo aos Estados Unidos expulsarem imigrantes sob argumentos de saúde pública e proteção sanitária. “O Título 42 impede que pessoas e famílias tenham acesso aos procedimentos de asilo e de identificação de suas necessidades de proteção nos Estados Unidos“, disse.
Antes de assumir a Presidência, o democrata Joe Biden havia prometido revogar a norma, mas no início de agosto decidiu mantê-la.
O representante do Acnur disse que as deportações desse tipo aumentam o risco de “devolução em cadeia”, ou seja, devoluções em sequência por parte de diferentes países de pessoas vulneráveis e em perigo. Ele acrescentou que a expulsão de imigrantes também põe à prova a capacidade de resposta humanitária no Sul do México e no Norte da Guatemala, além de agravar o risco de transmissão da Covid-19.
“O Acnur está disposto a apoiar os Estados Unidos, o México e todos os países nas ações e medidas que preservem de forma efetiva a saúde pública, sem privar o direito fundamental de qualquer pessoa que foge da guerra, da violência ou da perseguição de ter acesso a um território seguro”, disse Reynolds.
No aeroporto internacional de Tapachula, na fronteira do México com a Guatemala, a AFP observou a chegada de um avião que transportava imigrantes, incluindo o guatemalteco Fredy Fernando, que viajou para os Estados Unidos com sua mulher e filha para procurar asilo.
Os três haviam chegado em solo americano na segunda-feira e foram imediatamente detidos pelas autoridades de imigração. Na quarta-feira, a família foi deportada de avião para o aeroporto de Tapachula e de ônibus para a Guatemala.
“As autoridades americanas não nos deram explicações, só tiraram nossas impressões digitais e nada mais, nem sequer nos perguntaram por que estávamos ali”, disse Fredy ao descer do ônibus. “Não perdemos a esperança de voltar”, concluiu ele, que ainda pretende tentar entrar nos EUA.