AP – Estados Unidos e Israel não fazem mais parte da Unesco. Os dois países anunciaram no ano passado que deixariam a agência da ONU e que a saída se tornaria efetiva no fim de 2018. Apesar de avanços nas discussões, nenhum dos dois voltou atrás na decisão.
A ex-diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, afirmou “lamentar profundamente” a decisão dos Estados Unidos, em 12 de outubro de 2017. “A universalidade é essencial para a missão da Unesco de construir a paz e a segurança internacionais diante do ódio e da violência, por meio da defesa dos direitos humanos e da dignidade das pessoas”, declarou. “É uma perda para a família das Nações Unidas. É uma perda para o multilateralismo”, ressaltou a ex-diretora.
“Juntos, trabalhamos com Samuel Pisar, embaixador honorário e enviado especial para a educação do Holocausto, a fim de compartilhar a história do Holocausto para lutar contra o antissemitismo e na prevenção dos genocídios, com o Canal Unesco para a educação sobre o genocídio na Universidade da Califórnia e com programas de alfabetização na Universidade da Pensilvânia”, disse a diretora da Unesco. E ainda, “trabalhamos para produzir novas ferramentas para os educadores contra todas as formas de antissemitismo, como fazemos para combater o racismo anti-muçulmano nas escolas”, finalizou Bokova.
Os Estados Unidos já deixaram a Unesco entre 1984 e 2003 e suspenderam sua contribuição financeira em 2011, que representava um terço do orçamento da organização. “A Unesco perdeu um pouco de seu capital em 2011 e ela procurou com sucesso um financiamento exterior e acredito que podemos continuar a fazê-lo”, afirmou, no fim de 2017, Audrey Azoulay, diretora geral da Unesco.
Disputa de Hebron
O estopim foi a decisão da Unesco de registrar a cidade de Hebron, na Cisjordânia, como um local palestino de “valor universal excepcional”. Na ocasião, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que esta iniciativa “desacreditava ainda mais uma agência da ONU já altamente discutível”.
Hebron é o lar de 200 mil palestinos e centenas de colonos israelenses, que estão entrincheirados em um enclave protegido por soldados israelenses perto do local sagrado, que os judeus chamam de o túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
Israel alegou uma tentativa de “reescrever a história negando os elos milenares dos judeus” com o lugar. “Uma decisão delirante”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O governo israelense também chamou a Unesco de “teatro do absurdo que deforma a história no lugar de preservar”. Fica a dúvida do que ocorrerá com a dívida dos dois países: US$ 620 milhões para o governo americano e US$ 10 milhões para o israelense.