AFP – Agentes migratórios mexicanos entraram nesta quinta-feira (23) em um acampamento de haitianos na mexicana Ciudad Acuña (fronteira com os Estados Unidos) para tentar persuadi-los a deixar o local e dar continuidade aos pedidos de refúgio no México, uma sugestão que muitos dos migrantes rejeitaram.
“Não queremos ir para Tapachula, chefe”, afirmou um dos haitianos diante do “convite” de um funcionário do Instituto Nacional de Migração (INM) que entrou no parque onde estão acampados os estrangeiros. “Lá estamos sofrendo, dormindo na praça, na rua”, completou o homem, sem identificar-se.
Tapachula fica na fronteira sul com a Guatemala e está sobrecarregada por dezenas de milhares de centro-americanos e haitianos que entraram com pedidos de refúgio, um status que os permite legalmente permanecer no país sem serem deportados, enquanto esperam para conseguir cruzar para os Estados Unidos.
Mas muitos migrantes que levavam meses esperando resposta à sua solicitação em Tapachula decidiram continuar sua marcha rumo a Ciudad Acuña, onde centenas acampam em um parque ou debaixo de uma ponte fronteiriça.
A entrada dos agentes foi o segundo episódio de um dia tenso no acampamento improvisado, que acordou assustado com o que parecia ser uma tentativa de despejo.
Na madrugada desta quinta-feira, dezenas de policiais distribuídos em cerca de 50 patrulhas se dispersaram pelas margens do Rio Grande, onde centenas de haitianos entram e saem diariamente entre os dois países, transportando alimentos e suprimentos.
“Por que estão com policiais? Por que estão estacionados lá fora? Vão nos deportar ou expulsar daqui?”, perguntou, angustiado, um homem após a chegada das autoridades.
“Não tenho nada no meu país”
Diante da movimentação, os haitianos acordaram alarmados. “Não tenho nada no meu país, o que vou fazer?”, disse, à beira das lágrimas, uma haitiana que se identificou como Sonia.
A AFP constatou que na margem ainda se permite a travessia de haitianos. Alguns passam do México aos Estados Unidos, levando seus filhos nos ombros e transportando seus pertencentes em mochilas e bolsas.
Um agente policial comentou à AFP que só lhes pediram para estar presentes neste ponto e que não receberam ordens para deter ninguém.
Uma fila de veículos da patrulha fronteiriça americana permanecia estacionada do outro lado do rio, com seus agentes vigilantes, mas sem impedir a travessia dos haitianos.
Enquanto isso, um helicóptero sobrevoava constantemente a área, enquanto outro contingente policial fechou o acesso ao parque, restringindo a entrada de mais pessoas ou veículos.
A nova onda migratória explodiu depois que Washington ampliou a vigência do Estatuto de Proteção Temporária (TPS) para os haitianos que estavam nos Estados Unidos antes de 30 de julho.
Como ocorreu no fim de 2020, após a eleição do presidente Joe Biden, esta decisão provocou um efeito manada, que impulsionou milhares a se lançarem em uma corrida para a fronteira com os Estados Unidos.