AFP – Uma denunciante do Facebook prestou depoimento nesta terça-feira (5) ao Senado dos Estados Unidos para pedir a regulamentação da empresa. A audiência aconteceu um dia após o apagão mundial que afetou bilhões de usuários e expôs a dependência mundial de seus serviços.
A ex-gerente de produtos da rede social, Frances Haugen, testemunhou no Capitólio depois de vazar para as autoridades e o “Wall Street Journal” documentos internos que detalham como o Facebook sabia que seus sites eram potencialmente prejudiciais para a saúde mental dos jovens.
“Acredito que os produtos do Facebook prejudicam as crianças, intensificam a divisão e enfraquecem a nossa democracia”, destacou Haugen. “É preciso que o Congresso aja. Essa crise não será resolvida sem a sua ajuda”.
Em seu discurso, Haugen alertou para o risco de não criar novas defesas contra uma plataforma que revela pouco sobre seu funcionamento. Ela também considerou que há um perigo por conta do poder nas mãos de um serviço que se tornou necessário na vida diária de tantas pessoas.
“A empresa esconde intencionalmente informações essenciais aos usuários, ao governo dos Estados Unidos e aos governos do mundo todo”, disse a declaração de Haugen. “A gravidade desta crise exige que saiamos das nossas estruturas regulatórias anteriores”.
Engenheira da computação de formação, Haugen trabalhou para empresas como Google e Pinterest. Em entrevista no domingo (3) ao programa de notícias “60 Minutes” da emissora americana “CBS News”, ela afirmou que o Facebook é “substancialmente pior” que tudo o que já viu.
Durante a entrevista, Haugen acusou o Facebook de “colocar os lucros acima da segurança” e disse que “agiu para ajudar a incentivar mudanças na gigante das mídias sociais, não para despertar raiva”.
O Facebook se opôs à indignação em relação às suas práticas e seu impacto, mas esta é apenas a mais recente de uma série de crises que atingem o gigante do Vale do Silício.
Há anos, os congressistas americanos ameaçam regulamentar os negócios do Facebook e de outras plataformas de rede social para enfrentar as críticas de que os gigantes do setor de tecnologia invadem a privacidade, servem de amplificador e caixa de ressonância para informações perigosas e prejudicam o bem-estar dos jovens.
Depois de anos de fortes críticas às redes sociais, sem grandes revisões legislativas, alguns especialistas se mostraram céticos sobre a possibilidade de uma mudança vinda do Congresso.
“Terá que vir das plataformas, terão que sentir a pressão de seus usuários e de seus funcionários”, disse à AFP Mark Hass, professor da Universidade Estadual do Arizona.