Por: Alfredo Melo – O futebol brasileiro, apesar de cinco títulos mundiais, ainda continua realizando campeonatos regionais, extremamente deficitários, que provocam situações tragicômicas. Uma dessas situações ocorreu na década de 80, no campeonato sergipano, envolvendo dois times da capital, o Sergipe e o Contiguiba.
A tabela marcava para a última rodada, a partida entre o Sergipe e o Contiguiba, porém, o Sergipe já havia conquistado o título com três rodadas de antecedência e, coincidentemente, o Contiguiba chegava a última rodada, já rebaixado para a segunda divisão. Era um jogo que não valia nada, e o torcedor que não é burro, não compareceu em grande número. A torcida do Sergipe já havia comemorado o título nas duas últimas rodadas e, não estava interessada na partida.
O Contiguiba, clube de baixo investimento, havia montado sua equipe com jogadores do chamado “come e dorme”, dos clubes do Sul do Brasil. Já rebaixado e para se livrar dos salários dos jogadores emprestados, o clube devolveu os mesmos aos seus clubes de origem.
O Contiguiba, que havia montado um elenco com 25 jogadores, chegava a última rodada com 16 jogadores. Com salários atrasados, sem crédito e sem dinheiro em caixa, os dirigentes resolveram cancelar a concentração e marcar a apresentação do time, no portão do estádio Lourival Batista, o “Batistão”, duas horas antes do horário da partida. No domingo, dia do jogo, para espanto da comissão técnica e dirigentes, dos 16 jogadores do elenco, apenas 10 se apresentaram e nenhum deles era goleiro.
Como entrar em campo com apenas 10 jogadores e sem goleiro? Por sugestão do roupeiro, resolveram procurar um goleiro entre os poucos torcedores no estádio. Quando soube da situação, o representante da Federação Sergipana de Futebol, informou aos dirigentes, que em caso de vitória, o Contiguiba perderia os pontos, por uso de um atleta irregular.
O presidente do clube argumentou que o clube já estava rebaixado e nada mudaria e que seria um desrespeito com os torcedores presentes, o time entrar com 10 jogadores em campo. Foi cômica a procura por um goleiro, entre os gatos pingados que estavam no estádio. Depois de muitos contatos e muitas recusas, um rapaz se ofereceu para jogar.
A situação era tão desesperadora, que ninguém se preocupou em perguntar ao torcedor sua experiencia jogando como goleiro. Com 11 jogadores, o time do Contiguiba entrou em campo, lado a lado com o time do Sergipe. Tudo parecia normal, com exceção do banco de reservas do Contiguiba, só com dirigentes e comissão técnica, sem nenhum jogador. Com a bola rolando, logo no primeiro chute a gol, o Sergipe fez 1×0 e mostrando que seria uma goleada histórica.
Após o sexto gol, ainda no primeiro tempo, os jogadores do Sergipe, foram alertados de que o goleiro do Contiguiba era um torcedor e começaram a tocar a bola, sem chutar em gol. Terminado o primeiro tempo, ainda em campo, o torcedor goleiro foi destituído da função. Ao ser perguntado pelo reporte da radio Atalaia, por que havia aceitado ir para o gol, sem ser goleiro, o rapaz, alegremente respondeu, “porque sou torcedor do Sergipe”.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior.