FORBES – Uma das mais conhecidas redes de restaurantes de frutos do mar dos Estados Unidos, a Red Lobster entrou com um pedido de recuperação judicial — o Chapter 11, na legislação norte-americana. A dívida passa de 1 bilhão de dólares, segundo a imprensa norte-americana. Enquanto isso, no caixa da companhia, há menos de 30 milhões de dólares. A conta, no final do dia, não fecha.
Com 578 restaurantes em 44 estados e no Canadá, a Red Lobster atende 64 milhões de clientes por ano e tem um faturamento na casa dos 2 bilhões de dólares.
Apesar do sucesso, que fez muitos norte-americanos terem acesso a frutos do mar como lagostas, as dívidas começaram a se acumular nos últimos anos. O entendimento é que houve má gestão, aumento de concorrência e questões setoriais, como inflação. Também houve subinvestimento em marketing, qualidade dos alimentos e atualizações dos restaurantes.
A cereja do bolo, porém, foi um rodízio de camarão que trouxe, consigo, uma dívida de até 12,5 milhões de dólares para a rede norte-americana.
Por que um rodízio foi o estopim da crise na Red Lobster?
Uma das promoções mais conhecidas da rede norte-americana era o Endless Shrimp (algo como “Camarão Sem Fim”, na tradução literal). Nela, consumidores pagavam 20 dólares e poderiam comer o tanto de camarão que quisessem.
Até 2023, a promoção era válida nas segundas-feiras. Mas as coisas mudaram em 2023. Para atrair novos (e mais) clientes, decidiram transformar a Endless Shrimp numa promoção diária. O resultado foi um desastre.
A inflação e o aumento do custo dos frutos do mar criaram um mar agitado para a rede. Ao longo do último ano, a marca chegou a aumentar o preço da promoção duas vezes, chegando a 25 dólares, mas não foi suficiente.
A rede relatou perdas operacionais de 11 milhões e de 12,5 milhões de dólares nos dois últimos trimestres seguintes ao lançamento diário. Em 2024, a oferta voltou a valer apenas para as segundas-feiras.
Quais outros motivos levaram à crise da Red Lobster
A queda do poder de compras dos norte-americanos está afetando diversas cadeias de restaurantes nas terras do Tio Sam. As redes Tijuana Flats e Sticky’s Finger Joint, por exemplo,também pediram recuperação judicial nos últimos meses. Outras, como a Dom’s Kitchen e a Foxtrot Market encerraram suas operações.
A Red Lobster foi fundada em 1968 por Bill Darden. Na época, havia uma lacuna no mercado de frutos do mar a preços acessíveis, especialmente em áreas sem litoral. Dois anos depois, a General Mills se interessou pelo restaurante, mas Darden, que também criou a Olive Garden, ficou na chefia da operação. Em 15 anos, a Red Lobster se tornou uma rede com mais de 400 operações.
Ao longo dos anos 1990, a marca lançou seus produtos mais famosos, como um biscoito de cheddar que existe até hoje.
Em 2014, Darden vendeu a Red Lobster para a Golden Gate Capital, uma empresa de private equity, por 2,1 bilhões de dólares. Desde 2020, o distribuidor de frutos do mar Thai Union Group, com sede na Tailândia, é o maior acionista da Red Lobster, com 49% da empresa.
Nos últimos anos, porém, o número de clientes começou a cair. Ex-funcionários da Red Lobster dizem que os esforços de corte de custos e os erros estratégicos da Thai Union prejudicaram a cadeia. Um ex-executivo alega, por exemplo, que a Thai fez cortes que acabaram prejudicando as vendas.
A partir daí, começou a tempestade. Novos executivos assumiram os negócios e a promoção do camarão infinito virou a dor de cabeça que virou na companhia. Sob um CEO nomeado pela Thai Union, a Red Lobster eliminou dois de seus fornecedores de camarão empanado, deixando a Thai com um acordo exclusivo para fornecer o fruto do mar para a rede, aponta o pedido de recuperação judicial. De acordo com o documento, isso gerou custos mais elevados e não cumpriu o processo típico de tomada de decisão da empresa de escolher fornecedores com base na demanda projetada.
A concorrência também pesou. O crescimento e a popularidade de redes fast-casual como Chipotle e redes de fast-service como Chick-fil-A nas últimas duas décadas também pressionaram a Red Lobster.
No Brasil, a Red Lobster chegou a ter duas unidades, uma na Avenida Faria Lima, em São Paulo, e outra no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Ambas estão fechadas.