JCEditores – Na data em que Donald Trump completou cinquenta dias de sua segunda gestão presidencial, em março de 2025, os Estados Unidos depararam-se com um cenário econômico inquietante, que lançou sombras sobre a eficácia de sua política tarifária e a premissa de que o caos poderia fortalecer sua liderança. Os mercados financeiros, espelho das apreensões dos investidores, registraram uma queda expressiva: o índice Dow Jones Industrial Average desceu quase 900 pontos em uma única segunda-feira, enquanto o Nasdaq enfrentou seu pior desempenho desde 2022, culminando em perdas estimadas em 4 trilhões de dólares em valor de mercado, segundo a Reuters.
Essa turbulência intensificou-se ao longo de três semanas, alimentada por temores relacionados às guerras comerciais promovidas por Trump, ao desânimo dos consumidores, à instabilidade no mercado de trabalho e à persistência de preços elevados. A incerteza, apontada por economistas de diversas correntes como autoinfligida, decorre de sete semanas de decisões erráticas, incluindo tarifas intermitentes contra Canadá, México, China e, potencialmente, exportadores globais a partir de abril. Tais medidas, somadas a demissões no funcionalismo federal, subsídios congelados e o fechamento de agências sob o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), abalaram a confiança de empresas, cidadãos e investidores, bem como geraram desconforto no aparato governamental.
Enquanto o ex-presidente Biden atribuía os altos preços pós-pandemia a fatores externos, lamentando a percepção equivocada de recessão entre os eleitores — apesar de indicadores econômicos resilientes até meados de 2024 —, Trump prometeu reduzir custos, impostos e regulamentações, impulsionar a produção energética e redistribuir riquezas por meio de políticas protecionistas. Contudo, a concretização dessas promessas mostra-se distante.
A economia, que exibia crescimento sustentado até o último ano, agora enfrenta riscos de estagnação, agravados por uma política tarifária cuja magnitude e duração permanecem incertas, dificultando projeções, como observado por Torsten Slok, economista-chefe da Apollo. Marcos Zandi, da Moody’s Analytics, reforça a necessidade de regras claras para restaurar a estabilidade.
Economistas de distintos matizes ideológicos, como Douglas Holtz-Eakin, do American Action Forum, criticam a falta de um objetivo definido nas tarifas, que Trump defende como instrumento de negociação e equalização comercial frente a países com barreiras mais altas. Kevin Hassett, do Conselho Econômico Nacional, prevê um primeiro trimestre tímido, com possível recuperação subsequente, mas vozes como Stephen Moore, ex-conselheiro de Trump, alertam para a fragilidade econômica, evidenciada por relatórios de empregos fracos e queda na confiança do consumidor.
Jason Furman e Larry Summers, ex-assessores democratas, advertem que as tarifas, além de nocivas por si só, geram incerteza evitável, com potencial para estagflação ou recessão. Paralelamente, no Congresso, republicanos enfrentam dilemas: o Comitê de Formas e Meios, sob pressão para elaborar cortes fiscais, lida com resistências internas, como a de 21 deputados que buscam preservar créditos energéticos, sinalizando tensões que podem influenciar legislações futuras, especialmente com a estreita margem partidária na Câmara.
Assim, a gestão Trump, até agora, revela um país preso entre promessas ambiciosas e uma realidade de instabilidade, onde a busca por alavancagem através do caos ameaça aprofundar a ansiedade econômica em vez de dissipá-la.