JNEWS – Caroline Dias Gonçalves, uma estudante brasileira de 19 anos da Universidade de Utah, relatou que o agente do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) que a deteve em Fruita, Colorado, pediu desculpas repetidamente, afirmando que “sabia que não era correto”, mas que “suas mãos estavam atadas”. A jovem, que vive nos EUA desde os 7 anos, foi abordada em 5 de junho, enquanto dirigia rumo a Denver, por supostamente seguir um caminhão muito de perto na rodovia I-70, próximo a Loma. Após ser liberada com uma advertência pelo policial local, Caroline foi interceptada novamente, minutos depois, por agentes do ICE em Grand Junction, sendo detida e encaminhada ao Centro de Detenção de Aurora, perto de Denver.
Em uma declaração após ser libertada sob fiança, Caroline expressou perdão ao agente que a deteve: “Ele se desculpou várias vezes e disse que queria me liberar, mas que não tinha escolha, mesmo sabendo que não era justo. Quero que saiba: eu te perdoo.” A detenção ocorreu em um contexto de endurecimento das políticas migratórias sob a administração do presidente Donald Trump, que, desde janeiro de 2025, intensificou as operações do ICE, considerando qualquer pessoa em situação migratória irregular como “criminosa”, conforme declarado pela Casa Branca.
Durante a abordagem inicial, imagens de câmera corporal revelaram que o policial questionou a autenticidade da carteira de motorista de Caroline e indagou sobre sua origem, notando um “leve sotaque”. Ao responder que era de Utah, mas nascida no Brasil, Caroline explicou que sua família migrou para os EUA quando ela era criança. Apesar de liberada pelo policial, a informação sobre seu status migratório parece ter sido compartilhada indevidamente, resultando em sua detenção pelo ICE.
Na prisão, Caroline enfrentou condições desumanas. “Os últimos 15 dias foram os mais difíceis da minha vida. Eu estava assustada e me sentia sozinha”, relatou. Ela descreveu a alimentação precária, com “pão molhado” e comida inadequada, além de horários confusos que desorientavam as detidas. Dividindo uma cela com outras 17 mulheres, a maioria falantes de espanhol, Caroline notou um tratamento diferenciado por falar inglês fluentemente: “Quando perceberam que eu falava inglês, fui tratada melhor que as outras. Isso partiu meu coração, porque ninguém merece ser tratado assim, especialmente em um país que chamo de lar desde os 7 anos.”
A jovem foi libertada em 18 de junho, após pagamento de fiança, determinado por um juiz. Sua soltura foi viabilizada por uma campanha de arrecadação organizada por amigas, como Megan Clark, no GoFundMe, que mobilizou mais de 764 doadores para cobrir os custos legais e a fiança. A organização TheDream.US, que concede bolsas a jovens imigrantes como Caroline, também lançou um abaixo-assinado que reuniu quase 7 mil assinaturas em apoio à sua libertação, criticando a criminalização de “Dreamers” e o impacto da detenção, que fez Caroline perder o prazo de renovação de sua bolsa para o semestre de outono.
“Em vez de mais detenções e deportações, os interesses e valores da América seriam melhor servidos ao oferecer educação e status legal para Caroline e outros Dreamers”, disse Gaby Pacheco, presidente da TheDream.US.
O impacto pessoal foi profundo. Caroline destacou a sensação de desamparo e a injustiça do sistema migratório: “Fui colocada em um sistema que me tratava como se eu não importasse.” Ela enfatizou seu amor pelos EUA, onde cresceu, e seu desejo de pertencimento: “Imigrantes como eu não pedem nada especial, apenas uma chance justa de regularizar nossa situação, sentir segurança e continuar construindo a vida pela qual lutamos tanto.” Caroline também chamou atenção para os mais de 1.300 detidos em Aurora, muitos em situações semelhantes, sonhando com uma oportunidade de contribuir para o país que consideram seu lar.
Tricia McLaughlin, do Departamento de Segurança Interna (DHS) em uma publicação na na rede X declarou que, “Caroline Dias Gonçalves, uma imigrante ilegal do Brasil, foi detida pelo ICE em 5 de junho de 2025. Seu visto expirou há mais de uma década.” Já o Gabinete do Xerife do Condado de Mesa emitiu um declaração dizendo que “a abordagem policial ocorreu na I-70, fora de Loma, e durou menos de 20 minutos e que Caroline foi liberada com uma advertência conforme a lei do Colorado e não investigamos o status de residência em interações policiais.”
O caso de Caroline expõe as tensões do sistema migratório americano e a luta de jovens imigrantes por dignidade e estabilidade, em um país que, para muitos, é o único lar que conhecem.
Com informações Newsweek – Denver Post – Salt Lake City Tribune