JUNOT – Pelo menos 11 pessoas perderam a vida em centros de detenção do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) durante a administração de Donald Trump, marcando o que pode se tornar o ano mais mortal em décadas para imigrantes detidos. Entre as vítimas, estão um cidadão canadense e um cubano, cujas mortes recentes expõem uma crise humanitária que se agrava em silêncio, longe dos holofotes, mas com consequências devastadoras para famílias e comunidades.
Um cubano de 75 anos faleceu na semana passada sob custódia do ICE, conforme informado pela CBS News, que cita uma notificação enviada ao Congresso. O ICE ainda não anunciou publicamente o ocorrido, prática comum, já que a agência frequentemente divulga tais fatalidades com atraso. Com essa morte, o número de óbitos em custódia desde que Trump assumiu o governo sobe para pelo menos 12, sendo dois deles confirmados como suicídios.
No total, 15 pessoas morreram em detenção neste ano fiscal, que inclui os últimos meses da administração de Joe Biden. Nos piores anos das três administrações anteriores, o número máximo de mortes em um único ano foi 12. Se o ritmo atual persistir, até 24 pessoas podem perder a vida até o final de 2025 — um número alarmante, embora o governo de George W. Bush tenha registrado 28 mortes no ano fiscal de 2004.
As condições nos centros de detenção, descritas por críticos como desumanas, são o epicentro dessa tragédia. A administração Trump, sob a liderança do “czar da fronteira” Tom Homan, intensificou as operações de deportação em massa, com metas de 1.200 a 1.500 prisões diárias. Em um único dia, 26 de janeiro de 2025, quase mil pessoas foram detidas.
Embora o governo afirme priorizar imigrantes com antecedentes criminais, cerca de 44% dos detidos até 1º de junho de 2025 não tinham registros criminais, exceto por entrada irregular nos EUA. Essa abordagem tem enchido os centros de detenção além de sua capacidade, com mais de 56.397 migrantes detidos em meados de junho — 140% acima do limite nominal da agência. “Em 20 anos de carreira, nunca vi condições tão horríveis”, declarou Paul Chavez, diretor de litígios e advocacia da Americans for Immigrant Justice, ao The New York Times. “Os centros estão superlotados, a comida é insuficiente, a higiene é precária e o atendimento médico, quando existe, é negligente.”
Entre as vítimas recentes, estão Johnny Noviello, um canadense de 49 anos, encontrado sem vida em um centro de detenção em Miami no dia 23 de junho, e Jesus Molina-Veya, um mexicano de 45 anos, que morreu em 7 de junho em custódia em Atlanta. A causa da morte de Molina-Veya está sob investigação, com relatos de que ele foi encontrado inconsciente com uma corda ao redor do pescoço. A morte de Noviello mobilizou o governo canadense, que exige respostas. “Nossos oficiais consulares estão buscando informações urgentes das autoridades americanas”, afirmou Anita Anand, ministra de Relações Exteriores do Canadá, em uma postagem no X. Cada uma dessas mortes carrega uma história de sonhos interrompidos, famílias separadas e perguntas sem resposta.
A crise é agravada pela gestão de empresas privadas, como GEO Group e CoreCivic, que administram muitos desses centros e são acusadas de lucrar com a detenção em massa, cortando custos em detrimento da dignidade humana. Banheiros imundos, falta de privacidade e demora no atendimento médico são queixas recorrentes. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, insiste que os detidos recebem cuidados adequados, mas relatos de ex-detidos e advogados pintam um quadro de negligência e descaso. “Eles tratam a gente como se não fôssemos humanos”, disse um ex-detento ao O Globo, ecoando o sentimento de muitos que enfrentam o sistema.
A imigração e a fiscalização de fronteiras consomem dois terços do orçamento federal para aplicação da lei, e o pacote de gastos da administração Trump, apelidado de “Big, Beautiful Bill”, pode injetar mais 168 bilhões de dólares nos próximos cinco anos — um aumento sem precedentes. Enquanto isso, a falta de transparência do Departamento de Segurança Interna (DHS) sobre as mortes e as condições nos centros de detenção alimenta a indignação de organizações de direitos humanos, parlamentares e até governos estrangeiros, como o do Canadá.