
Os Estados Unidos enfrentam, em 2025, o pior surto de sarampo em mais de 30 anos. Com 1.227 casos confirmados até julho e três mortes — duas crianças no Texas e um adulto no Novo México —, o vírus, eliminado em 2000, volta com força. A causa? A queda na cobertura vacinal, alimentada por um movimento antivacinas turbinado por desinformação, pela ignorância e por motivos obscuros ligadas a política. Não é só o sarampo: poliomielite, coqueluche, caxumba e rubéola também ameaçam ressurgir. No Brasil, o negacionismo da pandemia de Covid-19 reflete o mesmo problema, enquanto países desenvolvidos com regimes populistas, como os de Trump e Bolsonaro, seguem o mesmo roteiro perigoso.
No condado de Gaines, Texas, de acordo com APNews, uma comunidade menonita com apenas 80% de cobertura vacinal tornou-se o epicentro do surto. O sarampo, que infecta até 18 pessoas por caso, levou 11% dos pacientes a internações, com registros de pneumonia e encefalite. “Estamos regredindo décadas”, alerta o infectologista Paul Offit, comparando o cenário ao surto de 1992, com 2.126 casos.
A cobertura da vacina MMR (sarampo, caxumba e rubéola) caiu de 95,2% em 2019 para 92,7% em 2023-2024, insuficiente para a imunidade de rebanho. O movimento antivacinas é o motor da crise. Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde dos EUA, amplifica mitos, como a falsa ligação entre vacinas e autismo, desmentida há décadas. No X, a desinformação corre solta: “Sarampo dispara na Califórnia, e a culpa é de quem rejeita vacinas”, diz um post. Políticas que permitem isenções vacinais por motivos religiosos ou pessoais, como no Texas, criam bolsões de risco.
Outras doenças no horizonte
A poliomielite, erradicada nos EUA desde 1979, voltou ao radar após um caso de paralisia em Nova York, em 2022, e a detecção do vírus em esgotos. A cobertura vacinal contra pólio caiu para 93%, abaixo do necessário. Coqueluche, caxumba e rubéola também ressurgem. A vacina DTaP, que protege contra coqueluche, viu sua cobertura despencar, enquanto surtos de caxumba atingem comunidades não vacinadas.
No Brasil, a cobertura vacinal contra poliomielite caiu de 98,3% em 2015 para 75,9% em 2020. O sarampo, eliminado em 2016, voltou em 2018, com 17 mil casos suspeitos em 2022. Apesar da recuperação em 2024, com 92,3% de cobertura na primeira dose da tríplice viral, a segunda dose segue em 80%. O negacionismo, impulsionado por Jair Bolsonaro durante a Covid-19, com sua defesa de tratamentos ineficazes como a cloroquina, minou a confiança nas vacinas plantando a semente da desconfiança.
Países desenvolvidos com governos populistas, como Itália, França e Canadá, enfrentam o mesmo problema. Na Itália, a cobertura vacinal caiu para 91%, e surtos de sarampo persistem. Na França, o discurso antivacinas de Marine Le Pen alimenta a hesitação. No Canadá, comunidades conservadoras registram casos de sarampo. Esses regimes, como os de Trump e Bolsonaro, promovem a “liberdade individual” em detrimento da ciência, enfraquecendo a saúde pública.
A ignorância tem seu preço, custa vidas. Nos EUA, Kennedy Jr. sugere vitamina A como alternativa às vacinas, ignorando evidências. No Brasil a falta de campanhas especificas para lidar com o negacionismo aprofundam divisões. A solução exige vacinação em massa, educação científica e combate à desinformação. Vacinas salvam vidas e enquanto o negacionismo for tratado como liberdade, crianças pagarão o preço.