
Junho, nos Estados Unidos, é o Mês da Saúde Mental Masculina, uma campanha consolidada que joga luz sobre a crise silenciosa que afeta milhões de homens. No Brasil, a ideia começa a ganhar força em círculos como o X, mas ainda falta reconhecimento oficial. O que não falta são números que escancaram a gravidade: homens estão morrendo, e a sociedade precisa parar de ignorar. Não é vitimismo, não é polarização. É a realidade crua de vidas perdidas e um sistema que falha em oferecer saídas. Nos últimos cinco anos, o mundo perdeu cerca de 2,46 milhões de homens para o suicídio, com uma taxa média de 12,3 por 100.000, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São 492.000 homens por ano, quase 70% do total de suicídios globais (2019-2021). No Brasil, entre 2020 e 2024, cerca de 55.000 a 60.000 homens tiraram a própria vida, com uma taxa de 11 por 100.000 em 2020, conforme o Ministério da Saúde. Nos Estados Unidos, em 2024, aproximadamente 39.500 homens morreram por suicídio, com uma taxa de 23 por 100.000, a mais alta em décadas, segundo o CDC.
Cada número é uma história interrompida: um pai que não volta, um amigo que escondeu a dor, um filho que nunca pediu ajuda. Por que isso acontece? A sociedade impõe aos homens um fardo brutal: sejam provedores, inabaláveis, sem fraquezas. No Brasil, 93% das mortes em acidentes de trabalho, em profissões como construção e mineração, são de homens, segundo o IBGE. A expectativa de vida masculina é de apenas 73,1 anos (2023). Entre homens em situação de rua, 38% lutam contra o alcoolismo e 26% contra outras drogas, muitas vezes como fuga de transtornos mentais não tratados.
Nos EUA, a crise dos opioides, com mais de 100.000 overdoses anuais, amplifica os suicídios entre homens que evitam ajuda por medo do estigma. “Homem não chora” não é só um ditado; é uma corrente que mata.
A perspectiva “Red Pill”, presente em fóruns e no X, acerta ao expor essas pressões. Não se trata de culpar alguém, mas de reconhecer que homens enfrentam expectativas desumanas. No Brasil, a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem (PNAISH) avançou, com 119,4 milhões de atendimentos masculinos na atenção primária em 2023, um aumento de 24,5% em relação a 2022. Mas os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS-AD) estão sobrecarregados, e apenas 2,3% do orçamento do SUS vai para saúde mental. Nos EUA, 31% dos condados não têm clínicas para tratar dependência química, deixando homens em situação de rua — 36% com transtornos mentais graves — sem opções.
O Mês da Saúde Mental Masculina, consolidado nos EUA e emergente no Brasil, tenta mudar esse cenário. Inspirado por campanhas como a Men’s Health Month, o mês de junho destaca a necessidade de combater o estigma e promover ajuda. No Brasil, postagens nas redes sociais mostram a campanha ganhando força, mas falta apoio institucional. O CVV (188) oferece uma linha gratuita, mas quantos homens sabem disso?
Nos EUA, programas como o Housing First comprovam que moradia estável reduz suicídios, mas a implementação é lenta. A OMS recomenda redução de danos e serviços integrados, mas políticas punitivas, como a criminalização do uso de drogas, afastam homens da ajuda. O movimento “Red Pill” clama, e o Mês da Saúde Mental Masculina reforça: homens precisam de espaço para falar. A terapia não é fraqueza, é coragem. Precisamos de mais CAPS, mais campanhas que normalizem a vulnerabilidade masculina e políticas que unam saúde mental, moradia e combate ao vício. Não é sobre privilégios; é sobre vidas. Enquanto o silêncio prevalecer, homens continuarão caindo, e junho será apenas mais um mês.
ATENÇÃO – Se você ou alguém que você conhece (nos Estados Unidos) está tendo pensamentos suicidas, ligue para a National Suicide Prevention Lifeline em 800-273-8255, envie a mensagem de texto HOME para 741741 ou visite SpeakingOfSuicide.com/resources para informações adicionais. Se você está no Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 188.