JSNEWS – A crise habitacional em Massachusetts, marcada por aluguéis elevados e escassez de moradias, desafia residentes e autoridades. Em Boston, a terceira cidade mais cara para alugar nos EUA, o aluguel mediano de um quarto é de US$ 2.880, e o de dois quartos, US$ 3.530, segundo a Zumper. Nacionalmente, os valores são US$ 1.520 e US$ 1.905, respectivamente, evidenciando a disparidade que expulsa jovens profissionais e famílias.
A organização Homes for All Massachusetts propõe limitar aumentos anuais de aluguel ao Índice de Preços ao Consumidor (CPI), com teto de 5%. Em 2024, o CPI registrou 2,9%, restringindo reajustes a esse percentual em 2025. A medida, aplicável em todo o estado, visa proteger locatários, mas uma tentativa semelhante falhou em 2024 por falta de assinaturas.
Jim Rooney, da Câmara de Comércio da Grande Boston, critica o controle de aluguéis, argumentando que desestimula investimentos e reduz a rotatividade, agravando a escassez. Uma pesquisa de 2023 revelou que 25% dos 823 entrevistados planejam deixar a região devido aos custos habitacionais. Rooney sugere incentivar o mercado a construir mais moradias.
A Contradição das Políticas Locais
A raiz da crise habitacional em Massachusetts reside, em grande parte, nas políticas regulatórias impostas pelas administrações locais, que dificultam a construção de novos imóveis. Leis de zoneamento rígidas, processos de aprovação demorados e restrições à densidade urbana, como a proibição de prédios multifamiliares em áreas residenciais, limitam a oferta de moradias em um momento de crescente demanda. Essas barreiras, frequentemente justificadas pela preservação do “caráter das comunidades” ou da cultura local, criam um paradoxo: enquanto alegam proteger a identidade dos bairros, contribuem para o abandono de imóveis, já que proprietários, sem incentivos financeiros para manutenção, deixam propriedades deteriorarem.
Áreas negligenciadas tornam-se cenários de degradação urbana, comprometendo a vitalidade cultural que se pretendia resguardar. Mais alarmante é o papel de agendas ideológicas que moldam essas políticas. Muitas vezes, agentes políticos impõem restrições baseadas em visões elitistas ou interesses de grupos específicos, que resistem a complexos habitacionais sob o argumento de que descaracterizariam a estética ou a demografia local. Essa postura reflete uma tentativa de ajustar a sociedade a ideais que priorizam uma visão estática da cultura, em detrimento das necessidades da população. Essas regulações estatais agravam a escassez, mantendo os preços elevados e inacessíveis para a maioria.
O controle de aluguéis, embora apresentado como uma solução para proteger locatários, não aborda a causa principal: a insuficiência de novas moradias. Pelo contrário, pode desincentivar investidores, que, diante de retornos limitados, optam por setores mais rentáveis, como imóveis comerciais ou outros mercados.
Essa dinâmica perpetua a crise, enquanto as autoridades locais, responsáveis pelas barreiras regulatórias, propõem intervenções paliativas que não resolvem o problema estrutural. A insistência em políticas que restringem a oferta, enquanto se recorre a medidas como o controle de preços, sugere uma abordagem desconexa, que ignora os princípios econômicos básicos de oferta e demanda.
Resolver a crise habitacional exige políticas que estimulem a construção de moradias, como a flexibilização de leis de zoneamento, incentivos fiscais para construtoras e redução da burocracia em aprovações. Cidades como Minneapolis, Minnesota, adotaram zoneamento mais flexível, permitindo construções multifamiliares em áreas antes restritas, o que aumentou a oferta e estabilizou preços.
Em Massachusetts, a adoção de estratégias semelhantes, combinadas com planejamento participativo que integre elementos culturais, poderia revitalizar comunidades sem comprometer sua identidade. A crítica às políticas habitacionais atuais não é apenas econômica, mas também social. Ao priorizar interesses localizados ou visões ideológicas, as administrações locais negligenciam o bem-estar de famílias que lutam para pagar aluguéis exorbitantes.
A crise habitacional não será resolvida com controles artificiais, mas com coragem para enfrentar as barreiras regulatórias que criaram o problema, promovendo um mercado habitacional dinâmico e acessível para todos.