JSNEWS – A chegada de soldados uniformizados ao quartel-general da Guarda Nacional em Washington, na última terça-feira, marcou o início de uma operação ordenada pelo presidente Donald Trump para combater a criminalidade na capital dos Estados Unidos, em um movimento que democratas classificam como “teatro político” e que levanta temores sobre quais cidades, especialmente aquelas com taxas de criminalidade consideradas incompatíveis com os padrões aceitáveis pela sociedade americana, podem ser as próximas a enfrentar intervenções semelhantes.
A mobilização de uma força de 800 militares, complementada por cerca de 500 agentes federais de segurança, inclui o controle temporário da Polícia Metropolitana de Washington pela procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, e é vista como uma ruptura com normas históricas, intensificando debates sobre os limites do poder presidencial. A prefeita de Washington, Muriel Bowser, tentou adotar um tom conciliador, afirmando que os militares serão usados para reduzir a criminalidade, embora tenha previamente descrito a medida como “incomum e inquietante”, destacando que os soldados não terão autoridade para prisões e, embora não portem armas, terão rifles de uso padrão à disposição. Dados oficiais mostram que a criminalidade violenta na capital caiu significativamente desde um pico em 2023, quando a taxa de homicídios em Washington, de 39,4 por 100.000 habitantes, superou a do Rio de Janeiro, mas este ano está em níveis historicamente baixos.
Trump justificou a mobilização como uma resposta a “criminosos violentos, bandos de jovens descontrolados, maníacos drogados e pessoas em situação de rua”, mas Monica Hopkins, da ACLU em Washington, classificou a medida como uma “justificativa flagrantemente falsa” para o abuso de poderes emergenciais, criticando também a transferência de controle da polícia local. Na última segunda-feira, cerca de 850 agentes e policiais federais realizaram 23 prisões em Washington, incluindo acusações de homicídio e direção sob efeito de substâncias, além da apreensão de seis armas ilegais, mas a procuradora federal Jeanine Pirro evitou comparações com outras cidades, limitando-se a dizer: “Tudo o que sei é que estamos no topo em mortes”.
A declaração ignora a queda na criminalidade em 2024 e 2025, contrastando com o período do governo Biden, quando as taxas de homicídios em D.C. eram mais altas que as do Rio de Janeiro. Cidades como Chicago, Baltimore e Nova York, todas governadas por democratas e mencionadas por Trump em sua campanha por suas taxas de criminalidade, que, embora em declínio, ainda são vistas como elevadas em alguns contextos, podem ser alvos de futuras intervenções, especialmente por sua relevância política e populacional.
Em Chicago, o prefeito Brandon Johnson destacou uma queda de 30% nos homicídios nos últimos dois anos e 40% nos tiroteios em 2024, sugerindo que Trump poderia apoiar programas antiviolência em vez de medidas militares. Em Nova York, onde Trump criticou a eliminação de fianças em dinheiro para crimes menores, a governadora Kathy Hochul, que enviou a Guarda Nacional ao metrô em 2024, afirmou que as taxas de criminalidade estão em mínimas históricas. A mobilização em Washington, onde a taxa de homicídios caiu de 274 em 2023 para 99 até agosto de 2025, reflete uma tendência de redução, mas a possibilidade de intervenções em cidades como Baltimore, com taxas historicamente altas, ou Chicago, apesar de melhoras, permanece, alimentada pela retórica de Trump contra administrações democratas.
A federalização da Guarda Nacional da Califórnia em junho, a primeira sem consentimento estadual desde a era dos Direitos Civis, reforça a preocupação com a expansão dessas medidas, enquanto residentes como Rebecca Harkey expressam temores com a violência urbana e outros, como Rodney Miller, questionam a necessidade da presença militar, em um debate que combina segurança, política e os limites éticos do uso de forças federais.