
(Boston, 08 de Setembro de 2025) : Imagine as ruas de Boston, berço da independência americana, agora palco de uma caçada implacável. É 6 de setembro de 2025, e o ar está carregado de tensão. Agentes do ICE, vindos de todos os cantos dos Estados Unidos, descem sobre a cidade e o estado de Massachusetts como uma tempestade federal. A “Operação Patriot 2.0” – sim, o nome soa patriótico, mas para muitos soa como uma declaração de guerra – acaba de ser lançada pelo governo Trump. O alvo? Imigrantes indocumentados com históricos criminais graves, os chamados “piores dos piores”: assassinos, estupradores, traficantes de drogas, pedófilos e membros de gangues como a MS-13 ou Tren de Aragua. Mas, como sempre nessa história, as coisas são mais complicadas do que parecem. Vamos mergulhar nessa narrativa, com o pé nas ruas, ouvindo os gritos das famílias e o eco das sirenes em busca a verdade além das manchetes.
Agentes em Ação, Famílias em Pânico
Tudo começa discretamente, no final da semana passada, e explode na mídia no sábado. O Departamento de Segurança Interna (DHS) confirma: a operação está a todo vapor, e deve durar várias semanas. Agentes do ICE, apoiados pelo Departamento de Justiça, ATF e DEA, “inundam a zona”, como diz o “czar da fronteira” Tom Homan.
Foco em prisões locais, onde imigrantes foram soltos apesar do pedido de detenção expedido pelo ICE – aquelas ordens civis que as cidades santuárias ignoram. Em maio, a primeira “Operação Patriot” prendeu 1.500 pessoas em Massachusetts, 790 com acusações criminais. Agora, é a versão 2.0, e o DHS não poupa palavras: “Se você entrar ilegalmente e quebrar nossas leis, nós o caçaremos, prenderemos, deportaremos e você nunca voltará.”
Em Everett, na região metropolitana de Boston,em um estacionamento de um banco um drama te inicio. Ageu A. F., brasileiro de 42 anos com visto vencido, resiste à prisão. Sua esposa grita: “Não façam isso! Tenho um bebê! O que vou fazer?” A cena, capturada pelos jornalistas do Boston Herald, é o retrato cru do caos. Em Brockton, um cabo-verdiano de 39 anos, é detido em Framingham, outro brasileiro é pego. Até domingo, 7 de setembro, mais de 100 detenções reportadas, com equipes em Lowell, Fall River e Springfield.
David Wesling, deputy director do ICE em Boston, é direto: “Nossos agentes não param até pegarmos todos os criminosos ilegais.” Mas e os “colaterais”? Aqueles que não são alvos, mas acabam na rede por estarem no lugar errado? Em março, 165 prisões colaterais ocorreram em Massachusetts. O medo se espalha: comunidades cancelam festas do Dia da Independência Mexicana em Chicago – que pode ser a próxima –, e em Boston, famílias imigrantes lotam abrigos, com um salto de 40% na demanda.
O Alvo Principal: Boston, a Cidade que Não Se Curva
Por que Massachusetts? Porque Boston é o símbolo perfeito da resistência. A Boston Trust Act, de 2014, proíbe a polícia local de ajudar o ICE sem mandado criminal. Reforçada por uma decisão da Suprema Corte estadual em 2017, ela impede detenções extras de 48 horas só por detainer civil. Para o governo Trump, isso é traição: “Políticas de santuário como as de Michelle Wu atraem e abrigam criminosos, colocando ameaças à segurança acima de cidadãos honestos”, disse o DHS em diversas ocasiões.
Na quinta-feira, 5 de setembro, o Departamento de Justiça processa a cidade, a prefeita Wu, o comissário de polícia Michael Cox e o estado. A procuradora-geral Pam Bondi chama Boston de “uma das piores infratoras”. Ameaça: corte de fundos federais e, quem sabe, Guarda Nacional para “proteger” as operações.Wu, filha de imigrantes taiwaneses, não treme. “Boston é a cidade grande mais segura da América graças ao policiamento comunitário, não a ataques federais inconstitucionais”, rebate ela, invocando o Tea Party: “Nunca nos curvaremos à tirania.”
A governadora Maura Healey, ex-procuradora, vai além no MSNBC domingo: “Isso não é sobre segurança pública, é teatro político, uma tentativa de intimidação.” Ela acusa Trump de priorizar cidades democratas como Boston e Chicago, ignorando Memphis ou St. Louis, com taxas de homicídio bem piores (54 por 100 mil em St. Louis, contra 3,6 em Boston). Trump responde no X: “Sabem quantos foram mortos em Chicago no fim de semana? Oito. Feridos? 74. Isso é pior que qualquer coisa.”
A Resistência nas Sombras
Enquanto os agentes circulam em carros sem placa, a contraofensiva vem das ruas. Em Chelsea, uma mulher grita em espanhol: “Imigração tá aqui! Não saiam!“ No TikTok, alertas voam: “Migração no bairro!” Lucy Pineda, da Latinos Unidos en Massachusetts, com 2.500 voluntários, patrulha bairros e posta fotos de viaturas do ICE no Facebook. “Isso torna as prisões mais perigosas para nossos agentes”, reclama Wesling.
Para os ativistas, é sobrevivência: a Boston Immigration Justice Accompaniment Network chama a operação de “propaganda do medo”, que separa famílias e erode a confiança na polícia. Protestos eclodem em East Boston, com vigílias e cartazes. Grupos de direitos humanos preparam ações judiciais: “Isso viola o devido processo e mira não-criminosos.”
No X, a polarização ferve. Postagens como “Deportem todos!” de apoiadores de Trump contrastam com “Autoritarismo em ação” de críticos. Um usuário ironiza: “Patriot 2.0? Mais como Caça às Bruxas 2.0.” Outro: “Finalmente, limpando as ruas de Boston!.
Um País Dividido, uma Fronteira Interna em Chamas
Essa ofensiva não é isolada. É parte do plano Trump de deportar milhões, financiado pela “One Big Beautiful Bill”. Chicago treme, com Trump postando memes de Apocalypse Now: “Adoro o cheiro de deportações pela manhã.” Ele reserva o direito de chamar a Guarda Nacional se houver “necessidade de paz”.
Mas os críticos alertam: perfis raciais, erosão da confiança comunitária, impactos econômicos – indústrias como construção e agricultura dependem de imigrantes. E a política?
Wu enfrenta primárias na terça, com rivais como Josh Kraft, filho do dono dos Patriots. Isso pode mobilizar tanto hardliners quanto defensores de direitos. No fim das contas, como diria um repórter de rua, quem paga a conta? Famílias como a de Ageu, com bebês chorando no colo, ou comunidades que veem criminosos reais soltos por falta de cooperação?
A “Patriot 2.0” é um divisor: para uns, justiça patriótica; para outros, um ataque à alma imigrante da América. E enquanto os agentes caçam, as ruas de Massachusetts sussurram: isso está só começando.