JSNEWS – Um ataque aéreo israelense na capital do Qatar, Doha, contra líderes do Hamas, desencadeou uma onda de condenações internacionais e destacou tensões no conflito Israel-Hamas. A operação, batizada de “Summit of Fire”, ocorreu no bairro residencial de Katara durante uma reunião de negociação de cessar-fogo, resultando em ao menos três mortes confirmadas, incluindo o filho do negociador-chefe do Hamas, Khalil al-Hayya, um diretor do grupo, Jihad Lubbad, e um membro da Emiri Guard do Qatar. O ataque é visto como uma resposta a atentados recentes atribuídos ao Hamas, incluindo um em Jerusalém em 8 de setembro, que matou seis civis e feriu 11, além da responsabilidade pelo massacre de 7 de outubro de 2023.
Israel, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e pelo ministro da Defesa, Israel Katz, assumiu a responsabilidade pela ação, descrevendo-a como “totalmente justificada” em nome da autodefesa contra líderes do Hamas que, segundo o país, planejam ataques a partir de Doha. Fontes israelenses afirmam que a operação foi planejada há meses, acelerada após o ataque em Jerusalém, e envolveu cerca de 10 a 12 explosões em edifícios onde residiam membros do bureau político do Hamas. Relatos indicam que os Estados Unidos foram notificados previamente, com o presidente Donald Trump supostamente dando aprovação tácita, embora Israel afirme que a operação foi independente.
O Qatar, que abriga a liderança política do Hamas desde 2012 com o objetivo de mediar negociações entre o grupo e Israel, condenou o ataque como uma “violação flagrante” de sua soberania e do direito internacional. O primeiro-ministro qatari, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, classificou a ação como “covarde” e “criminosa”, destacando que o país desempenha um papel central nas negociações de cessar-fogo em Gaza, mediadas ao lado do Egito. O Ministério do Interior qatari confirmou que equipes de emergência ainda avaliam os danos em áreas residenciais, mas assegurou que a situação está sob controle. A comunidade internacional reagiu com forte crítica.
Países como Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Turquia, Irã, Síria, além de organizações como a ONU e o Hezbollah, condenaram o ataque como uma violação da soberania qatari e uma escalada perigosa. A França, por meio do presidente Emmanuel Macron, e a Espanha também expressaram repúdio, citando o direito internacional. A embaixada dos EUA em Doha emitiu um alerta temporário de “shelter-in-place”, suspenso posteriormente, enquanto monitora a situação. O Hamas, por sua vez, afirmou que sua liderança sobreviveu ao ataque, denunciando-o como uma “agressão contra todos os árabes e muçulmanos”. O grupo nega que operações militares sejam conduzidas a partir do Qatar, reforçando a narrativa qatari de que a presença do Hamas em Doha é estritamente para fins diplomáticos.
Percepção de Assimetria no Conflito
O ataque expôs uma percepção de assimetria no tratamento das ações do Hamas e de Israel no cenário internacional. O Hamas, classificado como organização terrorista por diversos países, é acusado por Israel de usar sua base em Doha para planejar ataques, como o de Jerusalém. Contudo, por ser um grupo não estatal, suas ações atraem menos sanções diretas no âmbito global, especialmente quando operam a partir de um país soberano como o Qatar.
Já Israel, ao realizar uma operação militar em solo qatari, enfrenta ampla condenação por violar a soberania de um Estado, mesmo justificando a ação como autodefesa contra ameaças iminentes. O direito internacional, que prioriza a proteção da soberania estatal, coloca Israel em desvantagem jurídica nesse contexto. A presença do Hamas em Doha, permitida pelo governo qatari, é vista por Israel como uma ameaça direta, justificando, na perspectiva de Netanyahu, a operação, apesar das consequências diplomáticas. Por outro lado, o Qatar defende que a presença do Hamas é necessária para facilitar negociações de paz, uma posição que críticos de Israel veem como contraditória, mas que é respaldada pelo papel de Doha como mediador.
O ataque ameaça desestabilizar as negociações de cessar-fogo em Gaza, que estavam avançadas sob mediação qatari e egípcia. Analistas apontam que a ação pode fortalecer coalizões anti-Israel no Golfo e complicar as relações entre o Qatar e seus aliados ocidentais, incluindo os EUA, que mantêm a base militar de Al Udeid no país. A investigação qatari sobre o incidente está em andamento, e o número exato de vítimas e os danos totais ainda não foram totalmente esclarecidos. Enquanto o Qatar enfatiza contenção para preservar sua posição diplomática, o risco de retaliações regionais permanece, intensificando as tensões no já volátil cenário do Oriente Médio.