Por: Eliana Pereira Ignacio
Olá, meus caros leitores, hoje quero repetir com vocês sobre um tema que se torna cada vez mais urgente diante dos desafios que vivemos coletivamente: como manter viva a esperança em tempos de incerteza e cultivar a resiliência diante das crises.
Todos nós, em maior ou menor grau, temos sido confrontados com momentos de instabilidade, seja no cenário político, econômico, social ou mesmo em nossas realidades pessoais. E a grande pergunta que surge é: como seguir adiante sem perder a fé, a força interior e o equilíbrio emocional? Do ponto de vista da psicologia, a esperança não é apenas um estado emocional passageiro, mas um recurso psicológico vital.
O pesquisador Charles Snyder definiu a esperança como a combinação entre a capacidade de visualizar caminhos possíveis (pathways) e a motivação necessária (agency) para alcançar metas, mesmo quando obstáculos parecem intransponíveis. Essa definição revela que a esperança não é passividade, mas movimento, decisão ativa de continuar acreditando e buscando alternativas.
Em paralelo, a resiliência tem sido estudada como a habilidade de enfrentar adversidades, superar traumas e reorganizar a vida de maneira construtiva. É um conceito que não significa apenas “suportar o sofrimento”, mas também transformar a dor em aprendizado e usar as crises como oportunidade de crescimento. Pesquisas em psicologia positiva apontam que pessoas esperançosas apresentam níveis mais altos de bem-estar, maior engajamento em atividades significativas e maior capacidade de se recuperar de situações traumáticas.
Contudo, é importante destacar que em tempos de crise a esperança não deve ser vista apenas como uma virtude individual. A psicologia social nos lembra que a esperança também se constrói no coletivo, no fortalecimento de laços de solidariedade, no apoio mútuo e na partilha de experiências. Quando famílias, comunidades ou igrejas se unem, criam-se espaços de acolhimento e ressignificação do sofrimento, o que fortalece a resiliência de todos.
Na tradição cristã, a esperança ganha uma dimensão ainda mais profunda. Não se trata apenas de esperar que as coisas melhorem por um acaso, mas de confiar em Deus e na Sua soberania.
O apóstolo Paulo afirma em Romanos 5:3-5 que “a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança”. Esse encadeamento mostra que, do ponto de vista cristão, a esperança não é ausência de tribulações, mas fruto da experiência de fé que se fortalece justamente no meio das dificuldades. Diante desse panorama, cabe refletir sobre quais práticas podem nos ajudar a cultivar resiliência e esperança em meio às crises:
- Autocompaixão: aprender a lidar com nossas limitações com gentileza, sem cair em autocrítica destrutiva.
- Regulação emocional: utilizar recursos como oração, respiração consciente e meditação cristã para lidar com a ansiedade e manter o coração firme.
- Busca de sentido: identificar um propósito maior, seja no serviço ao próximo, na fé ou na família, que nos motive a seguir em frente.
- Apoio social: investir em relacionamentos saudáveis e em comunidades de fé que funcionem como rede de suporte nos momentos de fragilidade.
Na prática espiritual cristã, fortalecer a esperança passa pela oração, pela leitura da Palavra, pela comunhão fraterna e pelo exercício da gratidão. Essas atitudes não anulam a dor, mas oferecem um fundamento sólido para enfrentá-la com coragem e confiança. Além disso, é útil traduzir a esperança em ações cotidianas que geram micro vitórias: estabelecer rotinas que promovam sono e alimentação regulares, definir pequenas metas alcançáveis e celebrar cada progresso; documentar momentos de gratidão ou de ajuda recebida; e participar ativamente de iniciativas comunitárias que promovam sentido e pertencimento.
Esses comportamentos concretos criam feedback positivo que sustenta tanto a crença pessoal de eficácia quanto a coesão social—elementos centrais para manutenção da resiliência. Cabe também aos líderes religiosos e profissionais de saúde mental promover educação emocional e espaços seguros de escuta, para que a esperança deixe de ser apenas discurso e passe a ser prática sustentada por estratégias psicológicas e espirituais integradas.
Portanto, nutrir esperança em tempos de incerteza é mais do que um ideal abstrato. É uma postura ativa diante da vida que integra psicologia e espiritualidade. É reconhecer que, mesmo no meio da tempestade, há espaço para crescer, aprender e se fortalecer.
É unir forças internas e comunitárias para transformar fragilidade em superação. “Mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças; sobem com asas como águias; correm e não se cansam; caminham e não se fatigam.” (Isaías 40:31)
Até a próxima semana.
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com