Eliana Pereira Ignacio
Olá, meus caros leitores! Na semana passada refletimos sobre a importância da esperança em tempos de incerteza e como ela pode nos ajudar a nutrir resiliência diante das crises. Hoje, quero propor uma continuidade natural dessa conversa: se conseguimos resistir, sobreviver e nos adaptar às adversidades, como podemos ir além e transformar a dor em propósito? Essa reflexão é essencial porque muitas vezes a vida não nos pede apenas que suportemos, mas que encontremos significado nas experiências mais difíceis.
A psicologia contemporânea tem nos mostrado que não basta apenas “ser resiliente”. A resiliência, entendida como a capacidade de se recuperar diante das dificuldades, é um recurso fundamental, mas ela não esgota todas as possibilidades de crescimento humano. Existe também o conceito de crescimento pós-traumático, desenvolvido por Richard Tedeschi e Lawrence Calhoun, que descreve como algumas pessoas, após passarem por grandes sofrimentos, conseguem desenvolver novas perspectivas, fortalecer vínculos, ressignificar valores e até descobrir novas missões de vida. Esse processo não é imediato, mas nasce do enfrentamento ativo do sofrimento e da busca por sentido.
Nesse ponto, a reflexão de Viktor Frankl, psiquiatra austríaco sobrevivente do Holocausto, torna-se um guia valioso. Em sua obra “Em Busca de Sentido”, Frankl a rma que, ainda que não tenhamos controle sobre as circunstâncias externas, sempre temos a liberdade de escolher a atitude diante delas. Para ele, encontrar um “porquê” viver — um propósito — é o que nos permite suportar quase qualquer “como”. Essa é uma lição poderosa quando pensamos na possibilidade de transformar dor em propósito. No campo da psicologia positiva, autores como Martin Seligman reforçam que, embora emoções negativas façam parte da vida, a construção de um sentido duradouro está ligada à capacidade de identificar valores, estabelecer metas e conectar-se a algo maior que nós mesmos.
Nesse sentido, a dor pode ser entendida como um ponto de inflexão, um momento em que somos chamados a repensar o que realmente importa e a reorganizar nossas prioridades. Esse movimento não significa negar a dor. Pelo contrário, trata-se de acolhê-la e reconhecer que, mesmo no sofrimento, podemos encontrar uma direção. Muitas vezes, os momentos de maior fragilidade emocional são aqueles que nos despertam para aspectos que antes estavam adormecidos. Um exemplo prático é quando, após uma perda significativa, alguém decide se engajar em causas sociais ou criar projetos de apoio para outras pessoas que passam pelo mesmo tipo de dor.
A experiência dolorosa se transforma, então, em fonte de conexão e de solidariedade. Do ponto de vista clínico, estimular esse processo implica ajudar a pessoa a nomear suas emoções, a refletir sobre sua história, a identificar forças pessoais e a reconhecer oportunidades de crescimento que podem emergir das crises. Estratégias terapêuticas que envolvem autorreflexão, escrita expressiva, grupos de apoio e práticas de espiritualidade podem favorecer a transformação da dor em propósito. Contudo, sabemos que esse caminho não é linear. Há recaídas, dúvidas, momentos de desesperança e períodos de estagnação.
É por isso que a paciência e a autocompaixão são tão importantes. Transformar dor em propósito não é apagar cicatrizes, mas permitir que elas contêm uma história de superação e de renovação. Agora, olhando pela perspectiva cristã, encontramos uma base sólida que ilumina essa jornada. A Bíblia nos ensina que o sofrimento não é o m da história, mas pode ser usado por Deus como instrumento de transformação. O apóstolo Paulo nos lembra que “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28).
Essa promessa não significa que todo sofrimento é bom em si mesmo, mas que mesmo as experiências dolorosas podem ser redimidas, produzindo crescimento espiritual, maturidade e um novo senso de missão. Para muitos cristãos, a fé se torna o alicerce que sustenta a travessia do deserto da dor. Ela oferece um horizonte de esperança que ultrapassa o imediato e aponta para uma realidade de propósito eterno.
Quando compreendemos que não caminhamos sozinhos, mas na presença de um Deus que transforma lágrimas em aprendizado e perdas em novos começos, nossa perspectiva sobre o sofrimento muda profundamente. Assim, transformar dor em propósito é um convite à reflexão psicológica e espiritual: quais dores da sua vida ainda não encontraram um significado? Será que nelas não está escondida a semente de algo novo? Pode ser que a adversidade que hoje parece insuportável seja, amanhã, o solo fértil de uma missão que impactará outras vidas.
Convido você, leitor, a permitir que a dor seja um mestre silencioso, e não apenas um fardo. Que possamos, juntos, aprender que a esperança não se limita à resistência, mas ‑ floresce quando escolhemos transformar nossas feridas em fontes de propósito e compaixão.
“Porque a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.”
(Romanos 5:3-4)
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com