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Um menino brasileiro de 13 anos, residente em Everett, Massachusetts, foi detido por agentes da Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) na quinta-feira, 9 de outubro, após uma interação com a Polícia de Everett. O adolescente, cuja família é originária do Brasil, foi transferido para o Northwestern Regional Juvenile Detention Center, em Winchester, Virgínia, a cerca de 800 km de sua casa, na manhã de sexta-feira, 10 de outubro, às 9h30, conforme confirmado por e-mail do Escritório do Procurador dos EUA ao advogado de imigração Andrew Lattarulo, da Georges Cotes Law, que encaminhou a correspondência ao MassLive.
A transferência ocorreu no mesmo dia em que o juiz federal Richard G. Stearns, de Boston, emitiu uma ordem determinando a liberação do garoto até terça-feira, 14 de outubro, salvo se o Departamento de Segurança Interna (DHS) apresentasse justificativas para a detenção contínua. Até 13 de outubro, o menino permanecia sob custódia. A mãe do adolescente, Josiele Berto, foi chamada para buscá-lo na delegacia de Everett na quinta-feira, mas, após esperar cerca de uma hora e meia, foi informada de que o ICE havia levado seu filho. Inicialmente, ele foi levado para um centro de detenção em Burlington, Vermont, na noite de quinta-feira, antes da transferência para a Virgínia.
Lattarulo descreveu a situação como inédita: “Nunca fiz um habeas corpus ou fiança para uma criança tão jovem. É a mais nova que já vi”. Ele destacou que o menino está detido entre adultos não relacionados, o que agrava as condições de sua custódia, e criticou a prática do ICE de transferir detentos para estados como a Virgínia, onde taxas de aprovação de asilo e fiança são mais baixas, dificultando o acesso a advogados locais.
O DHS, por meio da secretária assistente de Assuntos Públicos, Tricia McLaughlin, declarou em 13 de outubro que “o ICE não visa jovens ou crianças” e que, no momento da detenção, os agentes desconheciam a idade do adolescente, detido para “determinar sua identidade e avaliar se representava uma ameaça à segurança”. Essa posição tem sido contestada por advogados e ativistas, que apontam para táticas de transferência rápida como forma de complicar a defesa legal em estados mais favoráveis a imigrantes, como Massachusetts.
Este não é o primeiro caso de detenção de menores em Massachusetts. Em setembro de 2025, um jovem de 16 anos foi detido pelo ICE em Milford durante uma parada de trânsito, após parar para conversar com um conhecido ao buscar um lanche em uma padaria próxima, segundo a advogada Jill Seeber em entrevista à WHDH-TV. O adolescente foi liberado e levado para casa pelos agentes.
Em junho, Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, foi preso a caminho de um treino de vôlei e solto após pagamento de fiança de US$ 2.000, após protestos comunitários. Esses incidentes ocorrem no contexto da “Operação Patriot 2.0”, iniciada em setembro de 2025 pela administração Trump, que intensificou a aplicação de leis de imigração na região, resultando em um aumento de 85% nas detenções de indivíduos classificados como “sem ameaça” pelo ICE no estado.
O Departamento de Polícia de Everett, que não possui acordo formal com o ICE para fiscalizações de imigração, e o próprio ICE não comentaram o caso até 13 de outubro. A detenção do adolescente tem gerado críticas de grupos como a LUCE Immigrant Justice Network, que monitoram a crescente separação de famílias e as condições inadequadas enfrentadas por menores em centros de detenção. O caso segue em aberto, com expectativa de desdobramentos judiciais até o prazo estabelecido pelo juiz Stearns.