
Boston, 19 de Outubro de 2025
A chamada Trump Derangement Syndrome (TDS), ou “Síndrome de Perturbação de Trump”, tornou-se um dos termos mais controversos da política americana recente. Criada por conservadores e popularizada entre apoiadores de Donald Trump, a expressão descreve o que chamam de uma histeria coletiva da esquerda — uma incapacidade de aceitar a legitimidade de sua liderança. Mais que um diagnóstico psicológico inexistente, a TDS funciona como uma arma retórica: transforma discordâncias políticas em sintomas de loucura e desqualifica qualquer crítica como irracional.
O termo tem origem no “Bush Derangement Syndrome”, cunhado em 2003 pelo colunista Charles Krauthammer, e ressurgiu em 2016 com a ascensão de Trump. Desde então, é amplamente usado por comunicadores da direita. O próprio Trump ironizou o conceito diversas vezes, acusando democratas de sofrerem de “TDS reverso”, presos a uma obsessão por atacá-lo a qualquer custo.
A expressão voltou ao centro do debate após os protestos “No Kings”, realizados em 18 de outubro de 2025. Organizados por grupos ligados ao Partido Democrata, como o Indivisible Project, os atos reuniram milhões em mais de 2.500 cidades. As manifestações criticaram medidas do segundo mandato de Trump — deportações de indocumentados, cortes em programas sociais e vigilância nas fronteiras — e usaram o slogan “No Kings” para denunciar o suposto autoritarismo presidencial.
Para a mídia conservadora, o movimento foi a materialização da TDS: uma reação emocional, quase ritualística, que substitui o debate por indignação performática. Programas como Fox News @ Night chamaram os protestos de “histeria coletiva da esquerda”, apontando o envolvimento de elites progressistas e o financiamento de bilionários como George Soros. A cobertura destacou a contradição de comparar Trump a um monarca em um sistema onde ele foi eleito democraticamente e ainda mantém aprovação significativa na economia.

Veículos libertários, como a Reason, ironizaram a estética “festivalizada” das marchas, repletas de cartazes uniformes e mascotes infláveis, descrevendo-as como uma histeria coletiva de uma esquerda frustrada com a derrota eleitoral. Para os críticos, a TDS explica por que democratas preferem atacar Trump pessoalmente a discutir suas políticas concretas — especialmente as que mantêm apoio popular, como o endurecimento migratório.
Ainda assim, psicólogos e analistas políticos observam que o termo também reflete a própria doença da política americana: uma polarização extrema que transforma adversários em inimigos. Entre progressistas, o argumento inverso se repete — acusando os trumpistas de culto à personalidade e negacionismo democrático. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: a política é substituída por tribalismo emocional e o diálogo é soterrado pela gritaria ideológica.
A narrativa conservadora, porém, tem se mostrado particularmente eficaz. Ao reduzir a indignação progressista a uma anomalia emocional, ela esvazia o conteúdo político da oposição e reforça uma sensação de superioridade moral. Em resposta, parte da esquerda repete o mesmo padrão ao rotular como “nazifascistas” todos os que rejeitam suas pautas. É um espelho: ambos os lados recorrem a caricaturas para evitar o confronto real de ideias.
Por trás desse cenário, cresce a percepção de que a polarização americana é, em parte, artificial — alimentada por interesses políticos, midiáticos e econômicos que lucram com a divisão permanente. A histeria se converte em produto, a indignação em audiência e o medo em ferramenta de poder. A sociedade americana, nesse ciclo, torna-se refém de rótulos e narrativas fabricadas, incapaz de reconhecer a manipulação que sustenta sua própria discórdia.
Mais do que uma síndrome da esquerda, a TDS é o sintoma visível de uma doença mais profunda: uma política intoxicada, emocional e cindida, onde o “nós contra eles” vale mais do que qualquer verdade. O distúrbio, ao fim, talvez não seja sobre Trump — mas sobre os Estados Unidos que ele espelha.