Eliana Pereira Ignacio
Olá, meus caros leitores. Hoje quero iniciar uma mini-série sobre autoestima, um tema essencial para o equilíbrio emocional e espiritual. Ao longo das próximas semanas, vamos conversar sobre como o autoconhecimento e a aceitação pessoal podem transformar a forma como nos relacionamos com nós mesmos e com o mundo.
Para começar, quero refletir sobre algo profundo: o valor que não se mede. Vivemos em uma sociedade em que o “ter” e o “fazer” muitas vezes valem mais do que o “ser”. As redes sociais, o desempenho profissional e até os padrões de relacionamento nos pressionam a provar o tempo todo que somos suficientes.
No entanto, quando a vida se transforma em uma eterna competição, perdemos o sentido do descanso, da leveza e da conexão genuína. Na prática clínica, é comum encontrar pessoas exaustas, ansiosas e emocionalmente confusas, que tentam conquistar aceitação por meio do esforço constante. Muitas dizem: “Se eu fizer tudo certo, serei amada.” Mas o amor verdadeiro — humano ou divino — não se compra com desempenho. Como dizia Carl Rogers, um dos grandes nomes da Psicologia Humanista, “a pessoa plenamente funcional é aquela que se aceita como é.”
Aceitar-se não significa estagnar, mas reconhecer que o crescimento só é saudável quando nasce do respeito próprio, e não da comparação. A autoestima saudável é o alicerce da nossa identidade. É ela que nos permite errar sem nos destruir, recomeçar sem culpa e conviver com o diferente sem sentir ameaça. Quando compreendemos que dignidade não é recompensa, mas essência, paramos de lutar para “vencer” e aprendemos a simplesmente “viver”. E essa é uma das maiores curas da alma moderna: libertar-se da necessidade de provar valor e reencontrar a paz de ser quem se é.
Na psicologia clínica, trabalhamos isso com técnicas de reestruturação cognitiva — um dos pilares da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa técnica ajuda a identificar e questionar pensamentos distorcidos, como “preciso ser melhor que os outros” ou “não posso falhar”. Quando esses pensamentos são substituídos por crenças mais realistas — como “estou aprendendo no meu tempo” — o cérebro deixa de acionar o sistema de ameaça e passa a funcionar em modo de equilíbrio.
Albert Ellis, criador da Terapia Racional Emotiva, dizia que grande parte do sofrimento humano vem das “crenças irracionais” — especialmente a de que precisamos de aprovação constante para sermos dignos de amor. Essa crença nos torna reféns da comparação. Assim, quando alguém discorda de nós, sentimos como se estivéssemos sendo atacados. Aprender a respeitar as diferenças sem se sentir diminuído é um marco de autoestima sólida.
Erich Fromm, filósofo e psicanalista, escreveu que “amar é permitir que o outro exista tal como é”. Isso vale também para o amor-próprio: amar-se é permitir-se existir, sem precisar ser igual ou superior a ninguém. Na dimensão espiritual, essa verdade ganha ainda mais força.
A fé cristã nos ensina que o valor do ser humano não depende do desempenho, mas da identidade. Somos valiosos não porque fazemos muito, mas porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27).
Isso significa que o nosso valor é intrínseco, incondicional e eterno. Quando compreendemos que Deus não nos compara, também deixamos de nos comparar. A paz interior nasce quando aceitamos que a diferença do outro não nos ameaça, nos completa. O brilho alheio não apaga o nosso; ele apenas mostra que há muitas formas de refletir a luz divina. Do ponto de vista terapêutico, esse entendimento fortalece o senso de autocompaixão — conceito desenvolvido pela pesquisadora Kristin Ne. Ela de ne autocompaixão como “tratar-se com a mesma bondade que ofereceríamos a um amigo que sofre”.
Ao praticar a autocompaixão, transformamos a voz interna crítica em uma aliada de crescimento. Paramos de cobrar perfeição e começamos a valorizar progresso. Na próxima edição da nossa mini-série “Descobrindo o Valor de Ser Quem Eu Sou”, vamos dar um passo ainda mais profundo nesse caminho de autoconhecimento e fé. Falaremos sobre “A Voz Interna: Como a Autocrítica Pode Moldar ou Destruir a Autoestima”.
Um tema essencial para quem deseja silenciar o excesso de cobrança e aprender a se tratar com gentileza. Se na edição de hoje falamos sobre o valor que não se mede, na próxima aprenderemos a ouvir — e transformar — o diálogo silencioso que habita dentro de nós. Te convido a continuar essa jornada de cura e descoberta interior comigo.
“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos.” Filipenses 2:3
Até a próxima semana
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com


