
Malden (MA), 27 de Outubro de 2025
As operações de fiscalização imigratória nos Estados Unidos intensificaram-se, gerando um clima de temor entre comunidades de imigrantes, especialmente brasileiros. Em Stockton, no Vale Central da Califórnia, um episódio no sábado, 25 de outubro, exemplifica a tensão: cerca de 50 imigrantes indocumentados compareceram a um check-in obrigatório no escritório do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE, na sigla em inglês), e aproximadamente metade – cerca de 25 pessoas – foi detida. As prisões, motivadas por infrações que vão de atrasos em relatórios online a pendências imigratórias ou registros criminais leves, resultaram na transferência dos detidos para centros em cidades próximas, como Bakersfield e Sacramento, onde aguardam audiências de deportação. Alguns dos liberados foram submetidos a monitoramento rigoroso, incluindo o uso de tornozeleiras eletrônicas.
Embora não haja confirmação explícita de brasileiros entre os detidos, a região de Stockton abriga uma significativa comunidade brasileira, estimada em milhares, composta majoritariamente por trabalhadores da agricultura e da construção civil. Ativistas da California Collaborative for Immigrant Justice apontam que latinos e sul-americanos, incluindo brasileiros, são frequentemente alvos dessas fiscalizações.
O perfil dos detidos – trabalhadores indocumentados sem condenações criminais graves – espelha o padrão observado em outros estados, como Massachusetts, onde a Operação Patriot 2.0 resultou em mais de 1.400 detenções em outubro. Amplificados por redes sociais, esses eventos têm gerado pânico generalizado: muitos brasileiros relatam evitar o trabalho, escolas e até igrejas, receosos de abordagens inesperadas por agentes federais.
Dados do ICE indicam que 65% dos detidos não possuem condenações criminais significativas, sendo, em grande parte, trabalhadores que sustentam famílias e contribuem para a economia local. As deportações refletem a escala do problema. Até 1º de outubro, 2.262 brasileiros foram repatriados ao Brasil, segundo a Polícia Federal. Estimativas atualizadas, com base em relatórios de agências federais e organizações de direitos humanos, sugerem que, até o final de outubro, o número pode ter alcançado cerca de 2.800, com voos de repatriação operando regularmente.
Pelo menos dois voos foram confirmados para a semana seguinte ao fim de semana, transportando detidos de centros no Nordeste e Sul dos EUA. Essas operações, frequentemente conduzidas em condições controversas, intensificam as tensões humanitárias e diplomáticas. Em Chicago, o cenário é igualmente preocupante. A Operação Midway Blitz, iniciada em setembro, já resultou em mais de 1.000 prisões em Illinois até outubro, com foco em bairros de maioria latina, como South Shore e Little Village. Em um raid noturno recente, agentes federais, apoiados por helicópteros e equipes do FBI, detiveram 37 pessoas em um edifício residencial, sob acusações de tráfico de drogas e violações imigratórias.
As cenas de detidos algemados e protestos comunitários, com apitos e drones usados para alertar moradores, evidenciam a resistência local. Redes de apoio, incluindo academias, grupos de ciclistas e abrigos de animais, distribuem guias de direitos e kits de sinalização. O centro de processamento do ICE em Broadview opera em condições precárias, com relatos de detenção prolongada sem acesso adequado a camas ou assistência jurídica. Em Chicago, uma cidade que se declara “santuário” para imigrantes, essas ações desafiam as políticas locais e reacendem debates sobre segurança pública e direitos humanos.
O fenômeno não é exclusivo dos EUA. Na Europa, a crise migratória ganha contornos semelhantes, com países como Alemanha e França registrando mais de 20 mil deportações de migrantes sul-americanos e africanos no primeiro semestre de 2025, impulsionadas por acordos da União Europeia. Acampamentos superlotados na Grécia e na Itália, aliados a disputas políticas sobre a acolhida de refugiados, mostram que a mobilidade humana enfrenta barreiras globais. Para os brasileiros nos EUA, do Vale Central da Califórnia às ruas de Chicago, a vigilância constante contrasta com a resiliência comunitária, em um cenário onde o equilíbrio entre segurança e dignidade permanece desafiador.


