Tiago Prado
Empreender como imigrante nos Estados Unidos é, por si só, um ato de coragem e resiliência. A chegada em um novo país, com idioma diferente, cultura desconhecida e recursos limitados, coloca o empreendedor em um estado de urgência. É nesse cenário que nasce o chamado Modo Sobrevivência — uma mentalidade marcada por esforço extremo, foco em pagar contas e evitar o fracasso a qualquer custo. Esse modo é necessário no início. Ele ensina a acordar cedo, trabalhar duro, economizar cada centavo e aceitar qualquer cliente.
É uma escola prática de superação. No entanto, com o tempo, o que era motor vira freio. Muitos empreendedores permanecem presos a essa mentalidade mesmo após alcançarem estabilidade financeira. Continuam operando com medo, recusando-se a delegar, evitando investimentos e centralizando todas as decisões. Trabalham 14 horas por dia, mas não conseguem crescer.
O problema, nesse ponto, não é mais o negócio — é o modelo mental que o comanda. A transição para o Modo Abundância começa com uma mudança de consciência. O empreendedor deixa de ser bombeiro e passa a ser arquiteto. Em vez de reagir a emergências, ele começa a construir com visão de longo prazo. Cada decisão deixa de ser uma resposta ao mês atual e passa a ser um tijolo na construção de algo maior.
A diferença entre os dois modos é sutil, mas profunda: – O sobrevivente pergunta “quanto custa?”; a abundante pergunta “quanto rende?”.
- O sobrevivente tenta fazer tudo sozinho; o abundante cria sistemas e capacita pessoas.
- O sobrevivente teme perder; o abundante foca em criar valor.
Essa mudança não depende do saldo bancário, mas da mentalidade. É possível agir com abundância mesmo com poucos recursos, desde que haja clareza de propósito e confiança no processo.
Três sinais de que o empreendedor ainda está preso à escassez:
- Dificuldade em delegar: a crença de que “só eu sei fazer” limita o crescimento. O verdadeiro líder forma pessoas melhores que ele em áreas-chave.
- Medir tudo pelo custo, não pelo retorno: hesitar em investir em ferramentas, mentoria ou equipe por causa do preço imediato impede saltos de longo prazo.
- Medo de parar: quando o descanso é visto como luxo, e não como parte da estratégia, o empreendedor se torna escravo do próprio negócio.
A transição exige ações deliberadas:
- Estabelecer metas baseadas em liberdade, e não apenas em faturamento.
- Investir em conhecimento e networking, pois o capital mais valioso é o intelectual e relacional.
- Implementar sistemas e indicadores, que tragam previsibilidade e autonomia ao negócio.
- Praticar o desapego financeiro inteligente, investindo com propósito em equipe, marketing e tempo.
No mercado americano, o networking é um ativo estratégico.
Conexões abrem portas, aceleram aprendizados e ampliam horizontes. Já os sistemas — sejam tecnológicos, operacionais ou de gestão — transformam o negócio em uma máquina que funciona mesmo sem a presença constante do fundador. Um negócio que depende exclusivamente do dono é, na prática, um emprego disfarçado.
A virada de chave acontece quando o empreendedor para de buscar apenas segurança e passa a buscar expansão. Quando a pergunta deixa de ser “e se der errado?” e se torna “e se der certo?”. O salto mais importante não é financeiro — é de consciência. E o primeiro investimento é o mais transformador: mudar a forma como se pensa.


