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Uma brasileira com laços familiares à secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi detida por agentes federais do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE) em Revere, Massachusetts, no início de novembro. O caso, que ganhou repercussão nacional, destaca as tensões em torno das políticas de deportação da administração Trump, especialmente para beneficiários de programas como o DACA.
Bruna Caroline Ferreira, de 33 anos, é considerada pelo ICE como uma “imigrante ilegal brasileira com antecedentes criminais”. De acordo com o Departamento de Segurança Interna (DHS), ela entrou nos Estados Unidos em dezembro de 1998, ainda criança, acompanhando a família, com um visto de turista B2 que exigia sua saída do país até 6 de junho de 1999. Bruna permaneceu nos EUA após o vencimento do visto, tornando-se irregular há mais de 26 anos. Atualmente, ela está detida no Centro de Processamento do ICE no Sul da Louisiana, aguardando o processo de deportação.“Ela entrou nos EUA com um visto de turista B2 que exigia que ela deixasse o país até 6 de junho de 1999. Ela está atualmente no Centro de Processamento do ICE no Sul da Louisiana e está em processo de remoção. Sob o presidente Trump e a secretária Noem, todos os indivíduos presentes ilegalmente nos Estados Unidos estão sujeitos à deportação”, afirmou um porta-voz do DHS em comunicado oficial à imprensa.
Bruna é mãe de um menino de 11 anos com Michael Leavitt, irmão do meio da secretária de imprensa Karoline Leavitt, residente em New Hampshire. O casal teve um relacionamento no início dos anos 2010, mas se separou cerca de uma década atrás, logo após o nascimento da criança, que vive em tempo integral com o pai e a madrasta, Kara Leavitt. Apesar da separação, Bruna mantinha visitas regulares e uma relação com o filho, incluindo uma custódia compartilhada informal.

Em nota divulgada na terça-feira (25), Michael Leavitt expressou: “A única preocupação sempre foi a segurança, o bem-estar e a privacidade do meu filho”. Em entrevista à emissora WMUR-TV, afiliada da WCVB em New Hampshire, ele acrescentou que o menino mora com ele e a esposa em tempo integral, mas que Bruna preservava o vínculo materno. “Eu sempre tentei manter uma relação com ela. Desde que ela foi detida pelo ICE há várias semanas, nosso filho não fala com a mãe”, relatou Michael, que descreveu a situação como “difícil” para a família.
O advogado de Bruna, Todd Pomerleau, contesta as alegações do DHS e defende que a detenção foi injusta. Segundo a defesa, Bruna chegou aos EUA em 1998 com a família quando ainda era criança e era protegida pelo DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), programa federal criado na era Obama para blindar imigrantes trazidos ilegalmente ao país na infância de deportações. “Ela estava justamente no processo de obtenção do green card e foi abruptamente presa e separada de seu filho pequeno pouco antes do Dia de Ação de Graças”, afirmou Pomerleau.
Sobre os supostos antecedentes criminais, o DHS alega que Bruna tem uma “prisão anterior por agressão (battery)”, conforme reportado pela rede WMUR. No entanto, Pomerleau nega veementemente: “Bruna não tem nenhum registro criminal. Não sei de onde isso surgiu. Nos mostrem as provas. Não há nenhuma acusação formal contra ela. Ela não é uma imigrante ilegal criminosa”.
Registros judiciais públicos de Massachusetts consultados pela defesa e por veículos de imprensa não encontraram evidências de tal prisão, e uma campanha no GoFundMe para custear os honorários advocatícios descreve Bruna como “trabalhadora, gentil e sem histórico criminal”.Uma fonte familiarizada com o assunto informou à WCVB que Karoline Leavitt, de 28 anos e natural de Atkinson, New Hampshire, não mantém contato com Bruna há muitos anos: “Essa pessoa é a mãe do sobrinho de Karoline e elas não se falam há anos. A criança vive em tempo integral em New Hampshire com o pai desde que nasceu. Nunca morou com a mãe.” Karoline, que concorreu sem sucesso ao Congresso em 2022 e é uma defensora ferrenha das políticas anti-imigração de Trump – frequentemente chamando imigrantes irregulares de “illegal criminal aliens” –, recusou-se a comentar o caso até o momento.
A prisão de Bruna ocorreu em 12 de novembro, a caminho de uma visita ao filho em New Hampshire, e reacende debates sobre o impacto humano das deportações em massa prometidas pela segunda administração Trump. Mais de 500 mil beneficiários do DACA, como Bruna, enfrentam incertezas, especialmente após esforços da primeira gestão Trump para encerrar o programa. Familiares e ativistas de imigração veem o episódio como um exemplo de “hipocrisia política”, dado o laço familiar com uma figura central do governo.
Bruna aguarda uma audiência de fiança e o andamento do processo de remoção. Sua defesa argumenta que a detenção é ilegal e busca uma revisão humanitária, priorizando o reunificação com o filho.


