
Dedham, Massachusetts – Todo ano, milhões de famílias montam presépios para lembrar o nascimento de Jesus em Belém. Em 2025, porém, a paróquia católica de St. Susanna, nos arredores de Boston, preferiu montar um presépio… sem Jesus, sem Maria e sem José. No lugar do “Menino Deus”, apenas um berço vazio e uma placa que diz: “ICE was here” (o ICE foi quem esteve aqui), seguida do telefone de um grupo que monitora operações de imigração. O recado é óbvio: se Jesus nascesse hoje nos Estados Unidos, seria um bebê latino perseguido pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas – o ICE –, transformado, por tabela, em uma espécie de soldado de Herodes dos tempos modernos.
O padre Stephen Josoma, responsável pela paróquia, justifica a encenação dizendo que quer “imaginar como seria se Cristo nascesse no contexto do mundo atual”. Pergunta retórica: ele enfrentaria deportação, separação familiar e xenofobia institucionalizada, claro. A resposta já vem embutida na própria pergunta.
Não é a primeira vez. Nos últimos dez anos, o padre Josoma já colocou o Menino Jesus dentro de uma gaiola (2018, em referência à crise na fronteira sul), já fez comentários sobre tiroteios em massa e aquecimento global usando o presépio como outdoor. Para ele, trata-se de “arte religiosa” que deve “provocar emoções fortes” e “mudar pessoas”.
Para muitos católicos da região, é simplesmente profanação barata. “É ofensivo. Ele está politizando o Natal, explorando a Sagrada Família e usando a paróquia como palanque ideológico de esquerda”, reagiu C.J. Doyle, diretor da Catholic Action League de Massachusetts.
Doyle acusa o padre de transformar o presépio em “manobra publicitária de ativismo político” e cobra da Arquidiocese de Boston uma repreensão que, até agora, não veio. E St. Susanna não está sozinha na cruzada natalina de 2025. Em Evanston, Illinois, a Lake Street Church (batista) exibiu o Menino Jesus com as mãos algemadas por abraçadeiras e Maria e José usando máscaras de gás. A explicação oficial: “A Sagrada Família foram refugiados… precisamos recuperar a aresta radical da história”.
É curioso como, de repente, o nascimento do Salvador – evento que a tradição celebra como luz nas trevas, paz na terra e boa vontade para com os homens – virou instrumento perfeito para demonizar agentes federais, governos e qualquer um que ouse discordar da agenda de fronteiras abertas. Herodes, o grande vilão da narrativa original, matou crianças inocentes por medo de perder poder. Hoje, para certos setores progressistas dentro das igrejas, o papel dos soldados de Herodes cabe a policiais de imigração que cumprem a lei, enquanto Trump seria o próprio dos dias atuais.
O Natal, que deveria ser momento de silêncio, contemplação e reconciliação, transforma-se em mais um ringue ideológico onde até o berço de Belém serve de megafone.
Enquanto uns veem no presépio vazio um grito profético, outros enxergam apenas oportunismo: trocar a adoração do Verbo Encarnado por mais uma dose de “culpa branca” embrulhada em papel de presente progressista. No fim das contas, a manjedoura continua vazia… e muitas igrejas também andam assim ultimamente – bancos silenciosos, missas meio desertas, fiéis indo embora aos poucos. Não é o ICE que está esvaziando os templos; é a transformação do Evangelho em panfleto ativista que já não alimenta alma nenhuma, só satisfaz a vaidade de quem quer parecer do lado “certo” da história. O Menino Jesus foi embora mesmo. Mas dessa vez não foi perseguido por soldados de Herodes – foi expulso por quem resolveu que a Boa-Nova cabe direitinho num slogan de manifestação.


