
Boston, 4 de dezembro de 2025 —
A Rede de Repressão a Crimes Financeiros (FinCEN), órgão do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, é uma das agências mais poderosas e discretas do governo americano. Criada na década de 1990 para combater lavagem de dinheiro e delitos financeiros semelhantes, ganhou força com o USA PATRIOT Act de 2001, que a transformou em bureau oficial do Tesouro e passou a exigir que bancos e instituições financeiras reportassem, de forma sigilosa, informações sobre seus clientes. Agora, a administração Trump voltou esse arsenal contra um alvo inesperado: os imigrantes indocumentados que enviam dinheiro às famílias no exterior.
No dia seguinte ao feriado de Ação de Graças, a FinCEN publicou o alerta FIN-2025-Alert003, orientando empresas de serviços monetários (MSBs) — como Western Union, MoneyGram, Ria e Xoom — a intensificarem a vigilância, identificação e denúncia de atividades suspeitas em transferências internacionais realizadas por “illegal aliens” (termo oficial para pessoas sem status legal nos EUA).
Embora o documento reconheça que “a grande maioria das remessas feitas a partir dos Estados Unidos é legítima e presta apoio financeiro essencial a familiares no exterior”, equipara o trabalho informal de indocumentados a fontes de recursos “obtidos ilicitamente”, colocando-o no mesmo patamar de terrorismo e tráfico de drogas. Em outras palavras, ferramentas originalmente desenhadas para combater redes criminosas globais estão agora sendo usadas para rastrear empregos informais.
O alerta não é uma lei nova, mas um “lembrete regulatório” com peso real: descumpri-lo pode gerar multas milionárias ou até processos criminais. No passado, a FinCEN focava grandes operadores envolvidos em crimes graves, nunca clientes comuns de varejo — algo que elas nunca foram treinadas nem equipadas para fazer.
Consultadas sobre eventuais mudanças de política, as principais operadoras preferiram não se pronunciar. O impacto, porém, já é mensurável: em 2024, imigrantes residentes nos EUA enviaram mais de 72 bilhões de dólares a seus países de origem, segundo o Bureau of Economic Analysis.
Paralelamente, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou no último fim de semana o corte de créditos fiscais reembolsáveis para indocumentados e declarou: “Se você está aqui ilegalmente, não há lugar para você no nosso sistema financeiro. Usar nossas instituições para movimentar recursos obtidos de forma ilícita é exploração, e isso vai acabar.”
Outras medidas reforçam o cerco: ao longo de 2025, a FinCEN reduziu drasticamente os limites de reporte obrigatório em condados fronteiriços com o México (de US$ 10.000 para até US$ 1.000) e, a partir de janeiro de 2026, entrará em vigor o imposto de 1% sobre remessas em dinheiro ou cheque, criado pela One Big Beautiful Bill Act — taxa que, apesar de ter sido vendida como forma de desestimular a imigração ilegal, atinge também cidadãos americanos e imigrantes legais.
O que começou como guerra ao terrorismo financeiro transforma-se, assim, em guerra à imigração cotidiana. E, como aconteceu outrora com a luta antiterrorista, a nova ofensiva já ultrapassa seus alvos iniciais, alcançando e incomodando milhões de pessoas comuns — legais ou não — que apenas desejam ajudar suas famílias.


