JSNEWS – Washington, 10 de dezembro de 2025
Em uma escalada das políticas de controle migratório prometidas em campanha, o governo do presidente Donald Trump anunciou, por meio da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP), uma proposta que obriga turistas estrangeiros a fornecerem o histórico completo de suas atividades em redes sociais dos últimos cinco anos como condição para obter autorização de viagem. A medida, publicada no Registro Federal na noite de terça-feira (9), afeta principalmente visitantes de países participantes do Programa de Isenção de Visto (Visa Waiver Program, ou VWP), incluindo nações como Reino Unido, Alemanha, França, Austrália, Israel, Japão e Coreia do Sul.
A iniciativa representa uma expansão sem precedentes do escrutínio sobre perfis online, alinhando-se a uma série de restrições impostas desde a posse de Trump em janeiro de 2025. Anteriormente, em junho, o Departamento de Estado havia determinado que solicitantes de certos vistos tornassem seus perfis em redes sociais públicos, uma regra que se estendeu recentemente a vistos H-1B para profissionais qualificados e seus dependentes. Agora, o foco recai sobre o Electronic System for Travel Authorization (ESTA), o formulário online que facilita a entrada de até 90 dias para cidadãos de países isentos de visto.
De acordo com o documento oficial da CBP, os solicitantes do ESTA – que atualmente pagam uma taxa de US$ 40 e fornecem dados básicos como endereço residencial, e-mail, telefone e contato de emergência, com validade de dois anos – terão de incluir, obrigatoriamente, identificadores de redes sociais (como nomes de usuário em plataformas como Facebook, Instagram, Twitter/X e TikTok) referentes aos últimos cinco anos. Além disso, serão exigidos detalhes adicionais de “alto valor”, como endereços de e-mail e números de telefone utilizados na última década, além de informações sobre parentes próximos: nomes completos, datas e locais de nascimento, residências e contatos telefônicos dos últimos cinco anos.
A proposta justifica-se como uma ferramenta para “fortalecer a segurança nacional”, permitindo a análise de “atividades antiamericanas” ou ameaças potenciais. Em agosto, o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS) já havia estabelecido que postagens em redes sociais consideradas “anti-americanas” seriam um “fator esmagadoramente negativo” na avaliação de vistos e green cards. Essa triagem já é aplicada a vistos de estudante e pesquisadores, e agora se estende a turistas casuais.
O timing da medida coincide com preparativos para megaeventos esportivos: a Copa do Mundo de 2026, co-sediada pelos EUA, México e Canadá, e as Olimpíadas de 2028 em Los Angeles, que devem atrair milhões de visitantes internacionais, muitos deles de países no VWP. Autoridades estimam que centenas de milhares de fãs britânicos, europeus e asiáticos precisarão cumprir essas exigências, o que pode complicar viagens de curto prazo e gerar filas nos sistemas de processamento.
Essa não é a primeira ofensiva do governo Trump contra a imigração legal. No início de dezembro, o presidente congelou todos os pedidos de imigração de 19 nações da África, Ásia e Caribe, cancelou cerimônias de naturalização e revogou vistos de estudantes estrangeiros por supostas violações online. Após o tiroteio que matou dois soldados da Guarda Nacional em Washington, atribuído a um cidadão afegão, Trump anunciou a consideração de uma proibição de viagens para mais de 30 países e defendeu publicamente uma “migração reversa”, propondo pausar permanentemente a entrada de pessoas de “países do Terceiro Mundo” para “recuperar o sistema americano”.
Críticos, incluindo a Electronic Frontier Foundation (EFF), classificam a proposta como “sem precedentes” e uma forma de vigilância em massa que viola a privacidade. “Isso não é segurança; é supressão de vozes dissidentes”, alertou a organização em comunicado. Setores como turismo e aviação preveem impactos econômicos: a Califórnia já registra queda de 9% em visitas estrangeiras este ano, enquanto Las Vegas e Hollywood relatam redução de 50% no tráfego de turistas internacionais.
A CBP abrirá um período de 60 dias para comentários públicos antes de implementar as mudanças, mas analistas veem pouca chance de recuo, dado o histórico da administração. Para viajantes, o recado é claro: planeje com antecedência. “O que era uma viagem simples agora vira um interrogatório digital”, comentou um porta-voz da indústria de turismo europeia.
Essa política reforça o compromisso de Trump com uma agenda de “fronteiras seguras”, mas levanta questões sobre o equilíbrio entre proteção e liberdades civis em um país que se orgulha de ser um destino global.


