
Washington, 11 de dezembro de 2025 –
Quando Donald Trump disse ontem, ( 10/12) que Gustavo Petro “vai se meter em grandes problemas se não ficar esperto” e que “será o próximo” se não colaborar, poucos perceberam que a frase não foi dirigida apenas ao presidente colombiano. Foi um recado em alto e bom som para toda a esquerda latino-americana que, por décadas, cultivou proximidade perigosa com regimes autoritários e, em muitos casos, fez vista grossa – quando não se beneficiou diretamente – do avanço do narcotráfico.
A sequência é cristalina: primeiro vieram os ataques aéreos e navais no Caribe contra supostas embarcações dos cartéis; depois a apreensão de um petroleiro iraniano-venezuelano; em seguida o ultimato a Nicolás Maduro; agora a ameaça explícita de “operações em terra” na Colômbia.
O México já ouviu que seus cartéis podem ser tratados como organizações terroristas. E o Brasil, que facilita 21 % de todo o fluxo internacional de cocaína que passa pelos seus portos e se tornou um dos maiores centros de refino do planeta, assiste calado – ou pior, ainda tentando equilibrar-se entre a velha solidariedade ideológica e o pragmatismo que a realidade impõe.
Porque o fato é público e notório: os governos de esquerda do subcontinente carregam uma longa e documentada história de convivência, quando não de cumplicidade, com o crime organizado transnacional. As Farc colombianas financiaram-se durante décadas com o tráfico e receberam apoio logístico e político de setores da esquerda regional. O Foro de São Paulo, que reúne exatamente os partidos hoje no poder em Brasília, Bogotá, Caracas e La Paz, jamais condenou de forma clara essa relação promíscua. Hugo Chávez transformou a Venezuela num narco-Estado reconhecido pela própria DEA. Evo Morales, enquanto presidente da Bolivia, expandiu o cultivo legal de coca exatamente nas mesmas regiões onde operam os grandes laboratórios. E o governo brasileiro de Lula, que restaurou relações plenas com Maduro em 2023, ainda mantém embaixador em Caracas e compra petróleo venezuelano mesmo sabendo que parte dessa receita financia o aparato repressivo do regime – e, segundo relatórios da ONU e da própria PF, também alimenta rotas de cocaína que entram pela Amazônia.
Enquanto isso, os números falam mais alto que qualquer discurso ideológico:
- 550 laboratórios de refino mapeados no território brasileiro entre 2019 e 2025 – 32 vezes mais do que o governo admite oficialmente.
- US$ 6 bilhões por ano apenas na etapa de refino, segundo estudo da ONG. Iniciativa Negra;
- 21 % de toda a cocaína que chega à Europa – o maior mercado consumidor depois dos Estados Unidos – sai de portos brasileiros, sobretudo Santos e Paranaguá, controlados por facções que já infiltraram polícia, judiciário, legislativo e até setores do Executivo.
A sociedade brasileira, essa sim, parece ter acordado.
Pesquisas recentes mostram que sete em cada dez cidadãos apoiam medidas duras contra o crime organizado, inclusive com apoio temporário das Forças Armadas. O Congresso avança com o pacote anti-facções, que prevê penas de até 15 anos para quem exerce “domínio de território” e cria cadastro nacional de membros de organizações criminosas.
Operações como a Contenção, no Rio, já deixaram mais de 120 mortos em confrontos – a mais letal da história recente – e contam com respaldo popular que nenhum governo de esquerda jamais conseguiu reunir para temas econômicos ou sociais. Mas o Planalto ainda hesita. Prefere discursos sobre “abordagem humanizada” do problema das drogas e críticas tímidas às “intervenções imperialistas” de Trump, exatamente o mesmo tom usado por Petro e Maduro. É uma postura que pode custar caro. Trump não precisa invadir ninguém para causar estrago: basta uma “descerteificação” no combate às drogas, tarifas adicionais de 50 % sobre aço, carne e soja, ou sanções Magnitsky contra autoridades brasileiras que, por ação ou omissão, facilitem a vida das facções.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Ninguém sobrevive a uma guerra comercial com Washington por puro apego ideológico.
| Risco concreto para o Brasil | O que pode acontecer se Trump apertar |
| Diplomático | Isolamento na OEA, veto em organismos multilaterais |
| Econômico Tarifas punitivas | Perda de US$ 15-20 bi em exportações anuais |
| Segurança | Designação do PCC e CV como organizações terroristas estrangeiras |
| Político interno | Ampliação do discurso de apoio à oposição e pressão por intervenção militar |
A mensagem de Trump é simples e brutal: quem protege ou tolera narco-Estados e não e importa que o país vire uma refinaria de drogas acaba virando alvo.
Maduro já está na mira. Petro foi avisado. O México treme. O Brasil, caso do Brasil é ainda mais delicado: somos grandes demais para sermos ignorados e vulneráveis demais para bancar bravata.
O governo Lula tem duas escolhas claras: continuar posando de mediador bonzinho entre ditadores e cartéis, ou assumir de vez a liderança de um combate ao crime organizado transnacional – como a sociedade brasileira exige e como a própria sobrevivência econômica do país recomenda. Porque, dessa vez, a conta não será paga só com discurso. Será paga em dólares, em empregos e, possivelmente, em soberania. E ela já está na mesa.
Fontes e Links para os Dados Mencionados
- 550 laboratórios de refino mapeados no território brasileiro entre 2019 e 2025 – 32 vezes mais do que o governo admite oficialmente
Fonte Principal: Estudo “Floresta em Pó” (Iniciativa Negra, 2025), que identificou 550 laboratórios de refino e/ou adulteração entre janeiro de 2019 e julho de 2025, com base em dados do Instituto Fogo Cruzado. O número oficial do governo (via Ministério da Justiça e Segurança Pública) é de cerca de 17 laboratórios desmantelados no período, resultando na discrepância de 32,4 vezes.- Link Longo: https://transformdrugs.org/blog/from-forest-to-dust-where-the-drug-war-meets-the-climate-crisis (versão em inglês do relatório completo, com detalhes sobre o mapeamento).
- Link Complementar (cobertura jornalística com dados exatos): https://www.intercept.com.br/2025/11/12/avanco-faccoes-ameaca-amazonia-brasil-refinador-cocaina/ (Intercept Brasil, 29/11/2025, confirma os 550 labs e o fator 32,4x).
- Outra Cobertura: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/10/estudo-identifica-550-laboratorios-para-processar-cocaina-no-brasil.shtml (Folha de S.Paulo, 30/10/2025, com distribuição por estados, como 125 em Goiás).
- US$ 6 bilhões por ano apenas na etapa de refino, segundo estudo da ONG Iniciativa Negra
- Fonte Principal: Mesmo estudo “Floresta em Pó”, que estima US$ 6 bilhões anuais (R$ 30-33 bilhões) no refino, baseado no mercado total de cocaína no Brasil (US$ 65,7 bilhões em 2024, per Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e na fatia de 9% da cadeia de valor dedicada ao processamento local. Isso considera uma taxa de detecção de 10-20% pelas autoridades.
- Link Longo: https://transformdrugs.org/blog/from-forest-to-dust-where-the-drug-war-meets-the-climate-crisis (detalhes econômicos no capítulo sobre impactos da proibição, comparando ao faturamento de empresas como Embraer).
- Link Complementar: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/brasil-refina-cada-vez-mais-cocaina-com-expansao-de-faccoes-criminosas/ (Gazeta do Povo, 02/12/2025, cita o estudo e o lucro extra de R$ 30 bilhões).
- Outra Cobertura: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/faccoes-transformam-o-brasil-em-centro-de-refino-de-cocaina/ (Gazeta do Povo, 02/12/2025, reforça o valor e o papel das facções).
21% de toda a cocaína que chega à Europa – o maior mercado consumidor depois dos Estados Unidos – sai de portos brasileiros, sobretudo Santos e Paranaguá, controlados por facções que já infiltraram polícia, judiciário, legislativo e até setores do Executivo
- Fonte Principal: Relatório Mundial sobre Drogas 2025 da UNODC, seção sobre fluxos de cocaína (baseado em apreensões de 2020-2023). O Brasil é identificado como origem/transit de 21% das remessas para a Europa (maior mercado após os EUA), com portos como Santos (40% das saídas sul-americanas) e Paranaguá como hubs principais.
- A infiltração de facções (PCC e CV) é corroborada por relatórios anexos e estudos regionais.
- Link Longo (Anexo Estatístico): https://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/world-drug-report-2025-annex.html (seção 7.3.2: Principais países de origem/transit de cocaína por apreensões, com mapas e dados sobre rotas transatlânticas via Brasil).
- Link Complementar (Mapas e Análise): https://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/world-drug-report-2025-maps.html (mapas de fluxos de cocaína, destacando rotas de Santos/Paranaguá para Antuérpia/Roterdã).
- Link Geral do Relatório: https://www.unodc.org/unodc/data-and-analysis/world-drug-report-2025.html (página principal, com download do PDF completo; busca por “Brazil cocaine transit Europe” para o percentual exato).
- Cobertura sobre Infiltração: https://www.intercept.com.br/2025/11/12/avanco-faccoes-ameaca-amazonia-brasil-refinador-cocaina/ (Intercept Brasil, integra dados da UNODC com relatos de controle de portos por facções).


