Edel Holz
O filme O Agente Secreto, com roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho, vem arrebatando prêmios e multidões de espectadores ao redor do mundo. Ontem, alunos, colegas de trabalho, meu marido e eu fomos prestigiar o cinema brasileiro em Boston. Assistir a um filme em nossa língua nos Estados Unidos não tem preço.
A produção traz o excelente Wagner Moura no papel principal e aborda uma ditadura velada. A história se passa no Nordeste, onde Dona Sebastiana (Tânia Maria) acolhe refugiados da ditadura militar em sua casa no Recife.
Os inúmeros recortes do roteiro, misturando ‑ flashbacks de várias épocas — inclusive a atual — acabam confundindo o espectador que tenta acompanhar a narrativa. Sabemos que Marcelo/Armando (Wagner Moura) perdeu a esposa e foi perseguido pelos militares porque, como diretor de universidade, estava desenvolvendo um carro elétrico.
Um empresário italiano ligado à Eletrobrás teria impedido o projeto, destruindo sua carreira e sua vida pessoal. O título do filme, Agente Secreto, deixa uma interrogação: Wagner Moura não estava infiltrado em lugar algum para justificar esse nome.
Outro ponto curioso é a “perna cabeluda”: encontrada dentro de um tubarão e retratada como gura que aterrorizava amantes nos parques do Recife. Como a maioria desses amantes eram homens, a mensagem final sugere uma homofobia velada.
Tânia Maria, com sua naturalidade, conquista a plateia e garante os melhores momentos do filme. Saí do cinema sem entender o motivo de tanto alarde em torno da obra. Wagner Moura é, sem dúvida, um grande ator, mas acredito que mereceria prêmios em outros papéis, não neste especialmente.
Ainda assim, ficarei feliz se ele vencer o Globo de Ouro e o Oscar — tenho esse feeling. Independentemente da minha opinião, é gratificante ver o Brasil conquistar prêmios e público através do cinema. Vale a pena enfrentar quase três horas de película e o frio para prestigiar um filme brasileiro em um país de língua inglesa. Eu posso não ter gostado de O Agente Secreto por vários motivos, mas essa é a minha visão.
Vá assistir e depois me diga: qual é a sua?
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.


