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Na Grande Boston, os preços das casas dispararam muito mais rápido que as rendas familiares, tornando a compra de uma residência própria inacessível para grande parte da população de classe média e jovem. O que outrora era visto como o “sonho americano” — trabalhar duro, poupar e adquirir uma casa que servisse como base familiar e investimento — agora parece fora de alcance para uma geração inteira.
De acordo com dados do segundo trimestre de 2025, o preço médio de uma casa na região atingiu US$ 833.900, mais de 7,5 vezes a renda mediana familiar local. Há cinco anos, uma família precisava de cerca de US$ 126.519 anuais para comprar uma casa de preço mediano; hoje, essa cifra mais que dobrou, chegando a US$ 259.648, conforme análise do Joint Center for Housing Studies da Universidade Harvard.
Com taxas de juros de hipoteca em torno de 6,79% para financiamentos de 30 anos, o pagamento mensal médio de uma casa mediana chega a US$ 5.240 — sem contar seguros, impostos e outros custos, que podem adicionar mais US$ 1.500. Isso representa um aumento drástico em comparação a 2010, quando o preço mediano era de US$ 360.800 e o pagamento mensal ficava em torno de US$ 1.816.
O impacto é especialmente severo para compradores iniciantes. A renda necessária para adquirir uma casa de entrada de mercado subiu de cerca de US$ 98.000 em 2021 para mais de US$ 162.000 em 2025, segundo o Greater Boston Housing Report Card 2025, da Boston Foundation e Boston Indicators. Como resultado, apenas 15% das famílias inquilinas conseguem arcar com uma casa inicial — uma queda em relação aos 30% de 2021. Aproximadamente 100.000 pessoas que podiam comprar uma casa de entrada em 2021 não conseguem mais em 2025.
A taxa de propriedade entre jovens adultos (25 a 34 anos) em Massachusetts é uma das mais baixas do país, em torno de 34%, com análises recentes apontando para cerca de 24% na prática. Há 50 anos, quase metade dessa faixa etária era proprietária. Na cidade de Boston, o índice cai para 18%, e em áreas como Cambridge e Brookline, fica em meros 8% a 12%.
Essa realidade força escolhas difíceis: permanecer no estado como inquilino permanente ou migrar para regiões mais acessíveis. Muitos profissionais qualificados — como professores, enfermeiros e trabalhadores de serviços — veem a porta da propriedade fechada, gerando uma divisão geracional de riqueza. Famílias que compraram casas nas décadas de 1970, 1980 e 1990 acumularam patrimônio significativo, com valores que dobraram ou triplicaram, enquanto a geração atual luta para entrar no mercado.
O aluguel também pressiona: a Grande Boston tem o quinto mercado de locação mais caro do país, com médias próximas a US$ 3.000 mensais (excluindo utilidades). Mais da metade dos inquilinos é considerada “sobrecarregada com custos”, gastando mais de 30% da renda em moradia.
Especialistas alertam que, sem aumento substancial na construção de novas unidades, a crise pode comprometer a mobilidade social e a acumulação de riqueza via habitação. Programas de assistência para pagamento inicial ajudam poucos sortudos, mas a maioria enfrenta a perspectiva de alugar por toda a vida ou deixar a região.
A crise de habitação na Grande Boston reflete não apenas flutuações econômicas pós-pandemia, mas uma escassez crônica de oferta que elevou preços e excluiu amplas camadas da população do mercado de propriedade.


