
Washington, 16 de dezembro de 2025 – A Estratégia de Segurança Nacional (NSS) divulgada pela administração Trump no início de dezembro de 2025 marca uma virada histórica na política externa americana: a rejeição explícita à promoção global da democracia como objetivo central dos Estados Unidos. Pela primeira vez em décadas, um documento oficial de segurança nacional abandona o que foi, desde o fim da Guerra Fria, um pilar ideológico bipartidário – a ideia de que os EUA devem atuar como farol e promotor ativo de valores democráticos no mundo.
Rejeição explícita à promoção democrática
Essa postura representa uma ruptura com estratégias anteriores, incluindo a própria NSS de 2017 (primeiro mandato de Trump), que ainda defendia a expansão da liberdade como interesse americano, e a de Biden em 2022, que estruturava a competição global em torno do eixo “democracia versus autocracia”. Em 2025, a palavra “democracy promotion” simplesmente não aparece como prioridade.
Abandono da promoção democrática no exterior
A administração Trump argumenta que a promoção ativa da democracia sobrecarregou os EUA militar, financeira e diplomaticamente, sem retornos proporcionais. Em vez de investir recursos em transições democráticas incertas em países distantes, a estratégia prioriza o pragmatismo transacional: relações baseadas em interesses mútuos concretos – comércio, segurança energética, dissuasão militar e acesso a tecnologias críticas.
Países como Arábia Saudita, Egito ou Emirados Árabes são vistos não como candidatos a reformas democráticas, mas como parceiros estratégicos estáveis. Aliados democráticos como Israel e Taiwan são valorizados por razões práticas (investimentos bilaterais, rotas comerciais, produção de semicondutores), não por compartilharem valores liberais.
Essa visão lembra análises clássicas da Escola Austríaca de economia, particularmente as de Ludwig von Mises (1881-1973), um dos principais teóricos do liberalismo clássico. Mises alertava que o intervencionismo estatal – incluindo esforços para impor modelos sociais ou políticos universais – inevitavelmente leva a mais intervenções, culminando em declínio econômico e perda de liberdades.
Em obras como A Crítica do Intervencionismo* (1929) e Socialismo (1922), Mises argumentava que tentativas de “melhorar” o mercado ou a sociedade por meio de coerção governamental ignoram diferenças culturais e incentivos humanos, gerando ineficiências crescentes e custos elevados para a nação interveniente. O “messianismo democrático global” das elites americanas anteriores – tentar impor um modelo universal, desconsiderando tradições locais – reflete exatamente essa armadilha intervencionista que Mises descrevia: um ciclo vicioso que enfraquece o país promotor, drena recursos e falha em produzir estabilidade duradoura. A doutrina Trump, ao rejeitar essa imposição ideológica em favor de relações recíprocas e “America First”, alinha-se a essa crítica misesiana, priorizando a soberania nacional e o realismo sobre aventuras universalistas custosas.
Crítica seletiva a democracias aliadas
O ponto mais controverso é a crítica aberta a governos democráticos europeus. A seção dedicada à Europa acusa líderes do continente de, paradoxalmente, “pisarem em princípios básicos de democracia” ao suprimirem oposição política legítima – referência clara a ações judiciais e regulatórias contra partidos nacionalistas e da direita em países como França, Alemanha e Bélgica.
O documento defende a “genuína democracia” e a liberdade de expressão na Europa, elogiando indiretamente “partidos patrióticos europeus” e chamando por uma “revitalização do espírito europeu”. Analistas interpretam isso como apoio velado a movimentos populistas de direita, alinhados à visão “America First” de soberania nacional e controle migratório.
Foco interno e pragmático
A NSS de 2025 redireciona o olhar americano para dentro: proteção das liberdades internas, revitalização industrial, segurança de fronteiras e fortalecimento da família e da vitalidade cultural americana. A democracia é celebrada como herança nacional preciosa, mas não como produto de exportação obrigatória.
Esse realismo pragmático reflete a doutrina “Paz através da Força” e o “Corolário Trump” à Doutrina Monroe – preeminência americana no Hemisfério Ocidental, com aliados globais convidados a assumirem mais responsabilidades. O mundo não é mais dividido entre democracias e autocracias, mas entre parceiros que respeitam interesses americanos e aqueles que não.
Implicações
A mudança sinaliza o fim de uma era em que os EUA se viam como arquitetos de uma ordem liberal global. Críticos alertam para riscos de isolamento diplomático e perda de soft power. Defensores argumentam que a abordagem anterior gerou guerras prolongadas, déficits comerciais e enfraquecimento interno sem ganhos duradouros.
Seja qual for o julgamento histórico, a Estratégia de 2025 consolida uma visão em que a democracia americana deve ser preservada em casa – não imposta no exterior. O “excepcionalismo americano” permanece, mas agora voltado para dentro, pragmático e desprendido de missões civilizatórias globais.


