
Nashville, Tennessee, 5 de agosto de 2025 – Às 10:31 da manhã, a cortina de metal se abriu com um rangido seco. A câmara de execução do Riverbend Maximum Security Institution revelou-se sob uma luz fluorescente fria, que iluminava a sala em tons de cinza estéril, as testemunhas legais que estavam presentes puderam ver um homem amarrado a uma maca, era Byron Lewis Black, de 69 anos. Seus olhos, arregalados e inquietos, dançavam pela sala, como se procurassem uma saída que não existia.
Byron condenado pelo assassinato de Angela Clay, de 29 anos, e suas filhas, Latoya, de 9, e Lakeisha, de 6, enfrentava agora o fim de uma espera que consumiu quase quatro décadas. Mas seus últimos minutos não seriam de resignação silenciosa – seriam um espetáculo de angústia, um grito abafado contra a maquinaria da justiça.
Na noite de 26 de abril de 1988, Nashville foi abalada por um crime que deixou cicatrizes permanentes. Movido por ciúmes e raiva, Black, então com 31 anos, invadiu o apartamento de Angela Clay, sua namorada, que havia obtido uma ordem de restrição contra ele por violência doméstica. Com uma arma na mão, ele disparou repetidamente contra Angela, acertando-a no peito e na cabeça. As filhas dela, Latoya e Lakeisha, dormiam em seus quartos. Latoya foi baleada duas vezes, uma na cabeça; Lakeisha, com um único tiro na cabeça, morreu sem acordar. O sangue manchou o chão do apartamento, e a dor da família ecoou por décadas.
Black foi condenado em 1989 a três penas de morte, mas sua história estava longe de terminar.
A defesa de Black lutou incansavelmente, apontando que seu QI, entre 70 e 76, o colocava na fronteira da deficiência intelectual. A decisão da Suprema Corte dos EUA em Atkins v. Virginia (2002) proíbe a execução de pessoas com essa condição, mas os tribunais do Tennessee rejeitaram as alegações, argumentando que Black não atendia aos critérios legais. Relatos de abusos na infância e transtorno de estresse pós-traumático pintaram um retrato de um homem marcado por traumas, mas a lei foi implacável.
Fora da prisão, manifestantes como Emily Harrington seguravam cartazes com mensagens como “Não executem Byron Black”, enquanto grupos como a Tennesseans for Alternatives to the Death Penalty chamavam a execução de “uma mancha moral”.
Embora não haja registros de uma conversão religiosa formal, Black encontrou consolo em um conselheiro espiritual nos últimos dias. Sua presença ao lado da maca foi um farol de humanidade em um momento desumano. Por meio de sua advogada, Kelley Henry, Black deixou uma mensagem final, um sussurro de afeto: amor por sua família, gratidão à sua equipe legal. Não era uma confissão de fé explícita, mas um gesto de quem buscava, talvez, alguma paz antes do fim.
O Desfibrilador
A execução foi ofuscada por uma controvérsia médica: Black tinha um desfibrilador cardíaco implantado (ICD), um dispositivo que poderia disparar durante a injeção letal, causando dor excruciante. Seus advogados imploraram pela desativação, mas o Nashville General Hospital recusou, citando princípios éticos. Na véspera da execução, a Suprema Corte do Tennessee, em uma votação de 4 a 1, negou um adiamento. “Byron será torturado”, alertou Kelley Henry, sua voz carregada de desespero.
A possibilidade de que o dispositivo pudesse prolongar ou intensificar o sofrimento transformou a execução em um experimento cruel, com Black como cobaia involuntária.
Na noite anterior, Black pediu uma refeição simples, quase pueril: pizza com cogumelos e salsicha, donuts e sorvete de pecã com manteiga. Era como se, por um momento, ele voltasse a ser uma criança, buscando conforto em sabores doces antes de enfrentar o desconhecido. Não houve registro de conversas extensas, mas sua mensagem final, transmitida por Henry, sugeria um homem tentando se despedir com dignidade.
Às 10:31 da manhã, o silêncio da câmara foi cortado pelo som metálico da cortina se abrindo. Sete jornalistas – de The Tennessean, NBC News, The New York Times, CNN, WPLN News, Nashville Banner e Daily Mail – observavam, seus cadernos abertos, os corações acelerados. Bennie Clay, ex-marido de Angela e pai das meninas, estava lá, os olhos fixos em Black.
Um conselheiro espiritual, com as mãos trêmulas, posicionava-se ao lado da maca. Representantes do Departamento de Correções do Tennessee (TDOC), incluindo o Comissário Frank Strada, completavam o público de um espetáculo que ninguém queria assistir, mas ninguém podia ignorar.
Às 10:32, o pentobarbital começou a fluir. O que veio em seguida foi um pesadelo em câmera lenta. Black levantou a cabeça, o pescoço tenso, os músculos se contraindo contra as amarras de couro. Seus suspiros eram pesados, como se o ar fosse roubado de seus pulmões. Gemidos guturais escapavam de sua garganta, cada um mais desesperado que o anterior. “Está doendo muito”, ele murmurou, a voz frágil, mas cortante, voltando-se para o conselheiro espiritual. O conselheiro, com lágrimas contidas, respondeu: “Sinto muito”.
A troca, capturada por jornalistas como Catherine Sweeney da WPLN News, foi um golpe no peito de todos na sala. Por três minutos, das 10:33 às 10:36, Black continuou a gemer, a respirar pesadamente, contorcendo o rosto, seus olhos, antes inquietos, pareciam implorar por alívio. Então, às 10:36, seu corpo cedeu. A cabeça caiu, os gemidos cessaram, e o silêncio voltou, pesado como chumbo. Às 10:43, Black foi declarado morto.
Os jornalistas, em uníssono, descreveram a cena como “perturbadora”. “Sinais claros e audíveis de angústia”, escreveram, contrastando com a execução de Oscar Smith meses antes, onde o condenado deslizou para a inconsciência sem sofrimento.
O desfibrilador, ainda ativo, pairava como um espectro: teria ele disparado, prolongando a dor? Kelley Henry não hesitou: “Byron foi torturado até a morte”. Uma autópsia foi prometida para desvendar o mistério.
Fora da prisão, o contraste era gritante. Nicoule Davis, prima das meninas assassinadas, segurava um cartaz: “Justiça foi feita”. Bennie Clay, que assistiu ao fim de Black, encontrou alívio em uma declaração lida por Abigail Geyer do TDOC: “Agradeço a Deus por este dia, que demorou muito para chegar. 37 anos é tempo demais, e não foi nossa culpa.” Mas, do outro lado, manifestantes como Emily Harrington choravam, seus cartazes clamando contra a execução de um homem com possível deficiência intelectual. “A pena de morte é injusta”, dizia um deles, enquanto o vento carregava suas vozes para o vazio.
A Morte Iguala a Todos, Mas a Justiça, não!
O assassino e suas vítimas foram unidos pelo mesmo destino inevitável. Mas a execução de Byron Black levanta uma pergunta que permanece: o que é justiça quando um homem geme de dor em seus últimos segundos? É justiça quando a família de Angela, Latoya e Lakeisha encontra paz após 37 anos, enquanto outros veem um sistema que falha com os mais vulneráveis?
A angústia de Black – seus suspiros, seus gemidos, sua súplica ao conselheiro – não é apenas a história de um homem, mas um espelho das contradições da pena de morte. Cada gemido força uma reflexão: é possível punir sem se tornar cruel? Pode a justiça ser cega quando a dor é tão visível?
A execução de Black não responde essas perguntas. Ela apenas as amplifica, como os gemidos que encheram a sala por três minutos intermináveis. Enquanto a autópsia busca respostas sobre o desfibrilador, e enquanto Nashville se divide entre alívio e indignação, uma verdade permanece: na câmara de execução, sob a luz fria e o silêncio cortado por gemidos, a morte de Byron Black foi mais do que um castigo. Foi um espetáculo horrível, um lembrete de que a justiça, como a morte, carrega um peso que nenhum de nós pode ignorar.
Esse texto foi produzido por Junot para o JSNEW através dos relatos dos repórteres da The Tennessean, NBC News, The New York Times, CNN, WPLN News, Nashville Banner e Daily Mail que testemunharam a execução.