Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá meus caros leitores, no artigo anterior, abordamos como a flexibilidade relacional é uma habilidade essencial para cultivar vínculos saudáveis e duradouros. O texto aprofunda a discussão sobre vínculos saudáveis, destacando a importância de distinguir entre validação, aceitação e aprovação nas relações interpessoais.
Confundir esses conceitos pode prejudicar o desenvolvimento emocional e relacional. Validação significa reconhecer a experiência emocional do outro sem necessariamente concordar com ela. Aceitação envolve respeitar a pessoa como ela é, mesmo sem aprovar todos os seus comportamentos. Já aprovação implica concordância com atitudes ou valores específicos.
O equilíbrio entre esses três elementos é essencial para cultivar relações maduras e empáticas. Como diz Carl Rogers: “A curiosa contradição é que quando me aceito como sou, então posso mudar.” (On Becoming a Person, 1961) Ou seja, quando somos aceitos e não necessariamente aprovados criamos um ambiente interno e externo propício à transformação. É necessário saber que confundir validação com provação gera sofrimento.
Muitos conflitos familiares e conjugais decorrem da crença inconsciente de que, para sermos amados, precisamos ser aprovados o tempo todo. Esse tipo de mentalidade se manifesta com mais frequência em pessoas que possuem esquemas emocionais ligados à rejeição, à necessidade de agradar ou ao medo de confrontos per s frequentemente associados à dependência emocional ou ansiedade relacional. Em contextos assim, uma simples discordância pode ser interpretada como rejeição pessoal.
A ausência de aprovação é sentida como abandono, e isso leva à retração emocional ou a comportamentos explosivos. Nesses casos, a prática da validação emocional reconhecer a emoção do outro sem julgá-la, torna-se um recurso terapêutico e relacional de alto impacto.
A Flexibilidade Como Caminho do Meio
A flexibilidade emocional, na visão da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), é a capacidade de sustentar sua identidade emocional sem se tornar refém da aprovação alheia. Trata-se de uma competência que permite: · Ser sensível ao que o outro sente, sem se perder para agradar; · Manter o respeito pelos próprios limites, mesmo diante de resistência; · Validar sem precisar concordar; · Aceitar o outro sem apoiar seus erros. É esse equilíbrio que sustenta relações maduras, em que o afeto não está condicionado à concordância.
Como afirma Brené Brown: “Empatia é se conectar com a emoção que alguém está sentindo, sem precisar corrigir, julgar ou resolver.” (The Power of Vulnerability, 2013) Certos per s de personalidade, como o dependente, o evitativo e o narcisista vulnerável — buscam aprovação como forma de validação emocional, o que pode gerar vínculos frágeis e condicionais.
A terapia, nesse contexto, propõe desenvolver uma autoestima enraizada na verdade interna.
A flexibilidade relacional surge como alternativa a esse ciclo, incentivando relações mais autênticas e desafiadoras ao crescimento. No cristianismo, esse princípio se manifesta na gura de Jesus, que valida e aceita as pessoas em sua dor, mas também as convida à transformação, como exemplificado nos encontros com a mulher samaritana e Zaqueu.
Como diz o apóstolo Paulo: “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” (Efésios 4:15) Aqui vemos o equilíbrio perfeito: verdade com amor.
A aceitação cristã não significa aprovar tudo, mas sim reconhecer o valor intrínseco da pessoa, sem renunciar à verdade e da responsabilidade pessoal. Em suma, verdadeira flexibilidade relacional exige coragem. É o caminho de quem aprendeu que validar a dor do outro não é o mesmo que concordar com suas escolhas, e que aceitar alguém não exige anulação dos próprios valores. Trata-se de uma maturidade emocional que acolhe sem se submeter, escuta sem se apagar e ama sem precisar controlar.
Ao desenvolver essa habilidade, os relacionamentos se tornam mais autênticos, menos reativos e mais propícios ao crescimento mútuo. Não precisamos de relações baseadas na aprovação constante, precisamos de vínculos afirmados na aceitação real, na escuta empática e na verdade vivida com respeito. “
O amor seja sem hipocrisia. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem.”
Romanos 12:9. Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com