Por: Eliana Pereira Ignacio – A capacidade de reconhecer e aceitar os próprios méritos é um aspecto fundamental para o bem-estar emocional, psicológico e espiritual de uma pessoa. No entanto, em uma sociedade marcada pela valorização da crítica e da comparação social, muitos indivíduos encontram dificuldades em reconhecer suas qualidades e, principalmente, em se sentir merecedores dos elogios que recebem.
Este fenômeno está profundamente ligado à autoestima, à autocompaixão e à autoaceitação, sendo que tanto a psicologia quanto as tradições espirituais oferecem valiosas contribuições para compreender como esse processo é crucial para o equilíbrio emocional e o crescimento pessoal.
Do ponto de vista psicológico, o reconhecimento e a aceitação dos próprios méritos são componentes essenciais da autoestima saudável.
A psicóloga e pesquisadora Brené Brown, conhecida por seus estudos sobre vulnerabilidade, coragem e vergonha, argumenta que a autoaceitação é um pré-requisito para a vivência plena e satisfatória. Segundo ela, “A coragem de ser imperfeito, de se permitir ser vulnerável e de receber elogios de forma genuína são caminhos para a construção de uma autoestima sólida.” Este processo de aceitação exige uma visão realista e equilibrada de si mesmo, sem cair no extremo da autossuficiência ou da autocrítica excessiva.
A psicologia positiva, campo da psicologia voltado para o estudo dos aspectos que promovem o bem-estar, também enfatiza a importância do reconhecimento do próprio valor. O psicólogo Martin Seligman, um dos fundadores dessa vertente, destaca a importância de cultivar forças pessoais, como a gratidão e o reconhecimento das próprias conquistas, para o aumento do bem-estar geral. Seligman (2011) explica que “A verdadeira felicidade não está em ter mais, mas em reconhecer o valor do que se já tem e nas pequenas vitórias do dia a dia.” Isso implica não apenas em aceitar elogios externos, mas também em internalizar esses reconhecimentos como reflexo de qualidades pessoais genuínas.
Quando uma pessoa tem dificuldades em aceitar seus próprios méritos ou sente-se “não merecedora” de elogios, esse fenômeno é frequentemente associado a padrões de pensamento autocríticos, traços de perfeccionismo ou, em alguns casos, à presença de transtornos como a Síndrome do Impostor.
A Síndrome do Impostor, descrita pelos psicólogos Pauline Clance e Suzanne Imes, refere-se a uma sensação persistente de fraude ou inadequação, mesmo quando a pessoa está sendo reconhecida e elogiada por suas conquistas. Indivíduos que experienciam essa síndrome tende a desvalorizar suas vitórias e a acreditar que não merecem o reconhecimento que recebem.
O processo terapêutico pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar esses indivíduos a desenvolver uma visão mais equilibrada de si mesmos. Terapias como a Cognitivo-Comportamental (TCC) ou a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) incentivam a reformulação de pensamentos autocríticos e a promoção de uma atitude mais gentil consigo mesmo, reconhecendo que a aceitação dos próprios elogios é um reflexo da autoaceitação, não de arrogância. Do ponto de vista espiritual, reconhecer-se merecedor dos próprios elogios vai além de uma simples questão de autoestima ou validação externa.
Em muitas tradições espirituais, o autoconhecimento e a autoaceitação são vistos como passos essenciais para o crescimento interior e a conexão com o divino. No cristianismo, por exemplo, a prática da humildade não implica em desvalorizar as próprias qualidades, mas sim em reconhecê-las como dádivas divinas.
O teólogo e filósofo Thomas Merton, ao refletir sobre o valor da autoaceitação, afirmou: “A humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar em si menos.” Isso significa que o reconhecimento do próprio valor deve ser acompanhado de um senso de gratidão e de serviço ao próximo O autoconhecimento, envolve o entendimento de que somos todos dignos de amor e respeito, tanto de outros quanto de nós mesmos.
“A verdadeira compaixão começa quando conseguimos aceitar e acolher nossos próprios erros e falhas com a mesma bondade que ofereceríamos a um amigo.” Esse princípio também se aplica ao reconhecimento dos nossos méritos e qualidades.
Reconhecer-se merecedor dos elogios é, em certo sentido, uma expressão de autocompaixão – uma prática espiritual que nos permite integrar o que há de melhor em nós sem arrogância ou orgulho excessivo.
“Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Suas obras são maravilhosas!”
Salmo 139:14
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com