BBC – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) utilizou sua fala na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24/9) para defender a soberania dos países para regular o ambiente digital e disse que a América Latina não deve se intimidar ante “indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei”.
“A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras”, disse Lula, que em seu discurso de quase 20 minutos também criticou a ação de Israel em Gaza, que chamou de “punição coletiva do povo palestino.” O presidente brasileiro condenou também a guerra na Ucrânia, lembrando que Brasil e China têm uma proposta, em seis pontos, para mediar a paz no território. Mas não citou a Venezuela, que passa por uma convulsão social desde a eleição no fim de julho.
Em meio a uma seca histórica e ao número recorde de queimadas em duas décadas, Lula mencionou a situação pela qual passa o Brasil – “Já fizemos muito, mas sabemos que é preciso fazer mais”.
A declaração de Lula sobre plataformas digitais ocorre em meio a uma contenda entre o bilionário dono da plataforma X, Elon Musk, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a derrubada de perfis que espalhariam falsas notícias e a necessidade de representação legal da rede no Brasil.
A escalada da disputa judicial culminou na decisão de Moraes de suspender o acesso ao X em todo o país em agosto.
Na visão do governo Lula, o bloqueio do X é um exemplo exitoso de preservação da soberania nacional frente a ataques extremistas externos, a despeito de críticas indiretas de países como os Estados Unidos, que, por meio de sua embaixada em Brasília, salientaram a importância da garantia à “liberdade de expressão” ao comentar o caso.
O presidente revisitou seus discursos na abertura da Assembleia, falando sobre o combate à fome e pedindo uma reforma da ONU.
Lula chegou ao plenário da Assembleia Geral da ONU poucos minutos antes das 9 da manhã e se sentou ao lado da primeira-dama Janja Lula da Silva, do chanceler Mauro Vieira, do assessor especial da presidência Celso Amorim e dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira.
Um pouco antes, a ministra da igualdade racial Anielle Franco e o ministro do desenvolvimento social, Wellington Dias, fizeram selfies no plenário, mas tiveram que se retirar do espaço reservado ao governo brasileiro.
No mezanino, junto aos jornalistas, a atriz brasileira Fernanda Torres, cotada para o Oscar de melhor atriz por seu papel em Ainda estou aqui, surgiu para acompanhar o discurso do presidente. Ela disse que era um “sonho” estar na Assembleia Geral e que pediu à primeira-dama Janja da Silva, que a ajudou a viabilizar um lugar na plateia.
No domingo (22/9), Lula havia feito um discurso na Cúpula do Futuro, evento que precede a Assembleia Geral da ONU. Ele criticou a falta de ação internacional para cumprir as metas de desenvolvimento sustentável — que segundo Lula “foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos, e caminham para se tornar o nosso maior fracasso coletivo”.
Todos os anos, líderes de todo o mundo se reúnem na sede da ONU, em Nova York, para a Assembleia Geral da organização. Esta foi a oitava vez que Lula abriu o evento.
Ao longo de seus dois mandatos anteriores, ele participou do encontro todos os anos entre 2003 e 2009. Em 2010, foi representado pelo então ministro das Relações Exteriores e atual assessor especial da Presidência, Celso Amorim.
Tradicionalmente, é um líder brasileiro quem abre o evento com um discurso, falando antes mesmo do anfitrião, seu homólogo americano.
Essa tradição iniciou-se em 1949, quatro anos após a criação da ONU, quando nenhum país queria ser o primeiro a falar. O Brasil então se voluntariou e repetiu o feito nos dois anos seguintes.
A partir de 1955, a ONU oficializou o Brasil como o país que abriria o evento. Essa é a principal hipótese levantada para que essa tradição siga assim até hoje. A ordem definida é: primeiro fala o secretário-geral da ONU, seguido pelo presidente da Assembleia Geral, o presidente brasileiro e, na sequência, o presidente dos Estados Unidos.