Eliana Pereira Ignacio
Olá, meus caros leitores, à medida que nos aproximamos do Natal, algo silencioso parece nos convidar a diminuir o ritmo. As luzes se acendem, as casas se enfeitam, as agendas se enchem, mas, paradoxalmente, o coração muitas vezes permanece inquieto. Vivemos em um tempo em que o barulho externo é intenso, os conflitos globais se multiplicam e as pressões internas parecem não dar trégua. Por isso, mais do que nunca, falar sobre paz neste período não é apenas oportuno é necessário.
Do ponto de vista psicológico, a paz não é ausência de problemas, mas a capacidade de sustentar equilíbrio interno mesmo diante das adversidades. Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, já afirmava que, mesmo quando não podemos mudar as circunstâncias, sempre podemos escolher a atitude com a qual iremos enfrentá-las.
Essa escolha consciente é um dos pilares da paz interior: ela nasce quando o indivíduo deixa de lutar contra aquilo que não pode controlar e passa a investir energia naquilo que pode transformar dentro de si.
A psicologia contemporânea reforça essa compreensão ao demonstrar que estados constantes de alerta, raiva e ressentimento mantêm o sistema nervoso em hiperativação, favorecendo ansiedade, irritabilidade e exaustão emocional. A paz, nesse sentido, é também um estado fisiológico. Práticas como autorregulação emocional, respiração consciente, reflexão e silêncio ajudam o cérebro a sair do modo de ameaça e entrar em um estado de segurança.
Daniel Siegel, neuropsiquiatra, explica que a integração emocional — quando pensamentos, emoções e corpo entram em harmonia — é fundamental para o bem-estar psicológico e relacional (Siegel, 2012). O Natal, sob essa ótica, nos oferece um símbolo poderoso: o nascimento de Jesus acontece no silêncio, na simplicidade e fora dos centros de poder.
Não há pressa, não há disputa, não há ostentação. Há presença. Há entrega. Há um convite profundo à interiorização. A mensagem cristã do Natal não aponta para um mundo sem conflitos, mas para um coração transformado, capaz de responder ao mundo de fora diferente. Quando a paz começa em nós, ela inevitavelmente se expande para o outro.
A psicologia das relações humanas mostra que emoções são contagiosas. Ambiente familiares, profissionais ou sociais refletem os estados internos das pessoas que os compõem. Uma pessoa em constante tensão tende a gerar relações defensivas; uma pessoa em paz favorece vínculos mais seguros. Carl Rogers já destacava que a congruência interna — viver de forma alinhada entre sentir, pensar e agir — cria um clima relacional de aceitação e confiança, essencial para relações saudáveis (Rogers, 1961). Nesse sentido, a paz interior não é um ato egoísta, mas um compromisso coletivo. Cuidar da própria saúde emocional é também cuidar da qualidade dos vínculos que construímos.
Em tempos de Natal, somos chamados a olhar menos para fora e mais para dentro: quais conflitos internos ainda alimentamos? Quais mágoas mantemos vivas? Quais expectativas irreais continuam roubando nossa serenidade? O Evangelho nos lembra que a verdadeira paz não é a mesma que o mundo oferece. Não é baseada em circunstâncias favoráveis, conquistas ou controle absoluto. É uma paz que sustenta, mesmo quando tudo ao redor parece instável. Psicologicamente, isso se traduz na capacidade de tolerar frustrações, aceitar limites e cultivar esperança realista. Espiritualmente, é confiar que não caminhamos sozinhos.
O tempo de Natal, portanto, não deveria ser apenas um período de celebração externa, mas um espaço sagrado de reflexão. Um convite para silenciar o excesso, reorganizar prioridades e permitir que a paz encontre morada dentro de nós. À medida que essa paz se estabelece, ela se reflete nas palavras que escolhemos, nas respostas que damos, nas atitudes que tomamos.
É assim, pouco a pouco, que a paz individual se transforma em paz relacional — e, consequentemente, em paz social. Talvez não possamos mudar o mundo inteiro. Talvez não possamos resolver todos os conflitos ao nosso redor. Mas podemos, sim, permitir que o Natal nos transforme de dentro para fora. E quando isso acontece, o mundo já não é o mesmo, porque nós não somos mais os mesmos.
Que neste Natal possamos acolher a paz que não faz barulho, mas sustenta; que não impõe, mas transforma; que não depende das circunstâncias, mas da disposição do coração.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vô-la dou como o mundo a dá.” (João 14:27)
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com


