AFP – A perseguição das autoridades chinesas às suas empresas mais proeminentes, por meio de novas regulamentações e investigações, infiltrou-se em quase todos os aspectos da vida moderna e destruiu bilhões de dólares nas bolsas de valores da China e de Hong Kong.
Independentemente de ser motivada pelo reflexo controlador do Partido Comunista, ou para evitar que as distorções do mercado prejudiquem a carteira, ou a segurança da população, poucos acreditam que tal perseguição tenha acabado.
Confira abaixo alguns setores nas mandíbulas da regulamentação:
– Entrega de alimentos –
As ações do maior aplicativo de entrega de comida, Meituan, perderam 15% de seu valor desde sexta-feira (23), depois que os reguladores anunciaram inesperadamente uma nova proteção para os trabalhadores esta semana.
Os trabalhadores do crescente setor de entrega de alimentos, ao qual milhões de pessoas recorrem todos os dias, terão um salário mínimo e não poderão fazer entregas em série.
Meituan e sua concorrente Ele.me, da gigante Alibaba, estiveram em destaque nos últimos meses, depois que a imprensa local divulgou as rotas perigosas dos entregadores, pressionados para entregar a comida no prazo.
Na Bolsa de Hong Kong, as ações da Meituan já sofreram um golpe em abril, na esteira da decisão dos entes reguladores de lançar uma investigação antitruste do aplicativo. O app também permite aos usuários reservar ingressos e serviços de saúde e entretenimento.
– Educação –
No sábado, Pequim promulgou novas regras, exigindo que empresas de tutoria sejam sem fins lucrativos, além de proibir aulas no fim de semana. O anúncio fez as ações de empresas de educação privada despencarem.
Os analistas acreditam que não haverá quem queira investir nessas empresas.
O governo disse que o setor, que movimentou US$ 260 bilhões em 2018, segundo a empresa de consultoria e pesquisa L.E.K. Consulting, foi “sequestrado pelo capital”.
Os fundadores da New Oriental e da Gaotu Techedu perderam quase imediatamente seu status de milionários, logo após o anúncio das novas regras.
– Transporte –
A líder de mercado Didi Chuxing foi retirada das lojas de aplicativos no início de julho, poucos dias depois de levantar US$ 4,4 bilhões em sua Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês), em Nova York.
A empresa continuou com o IPO, apesar do revés das autoridades chinesas, preocupadas com que as informações em poder da Didi possam cair em mãos estrangeiras.
Pequim enviou funcionários de sete departamentos governamentais à empresa para conduzir uma investigação de segurança cibernética.
A empresa, cujas ações perderam cerca de 40% desde que foi listada em Wall Street, pode estar sujeita a multas de milhões de dólares, ou à suspensão de algumas operações como punição, informou a agência de notícias Bloomberg na semana passada.
– Criptomoedas –
Nas últimas semanas, a China aumentou as restrições às atividades de mineração de bitcoins, o processo que permite a criação de criptomoedas.
A China era um dos baluartes das moedas virtuais, mas, em 2019, o governo deu uma guinada radical contra esses meios de pagamento. Pequim acusa-os de estarem a serviço de “atividades criminosas”.
Em maio, as autoridades proibiram os pagamentos em moeda virtual, fazendo o preço do bitcoin despencar.
– Comércio on-line –
Alibaba, o império do comércio eletrônico de Jack Ma, foi multado em US$ 2,8 bilhões em abril deste ano por dificultar a concorrência. Segundo o governo, a empresa “abusou de sua posição dominante no mercado”, proibindo os comerciantes de anunciarem seus produtos em plataformas rivais.
– Entretenimento –
O regulador do mercado chinês bloqueou a fusão das duas maiores plataformas de videogame on-line da China, Huya e Douyu, alegando que violava as leis de concorrência.
Foi um duro golpe para a gigante da Internet Tencent, que esperava assumir a nova entidade e consolidar seu controle no setor de videogames.
Juntos, Huya e Douyu respondem por entre 80% e 90% das cotas de mercado, de acordo com analistas.
Além disso, a Tencent, que também é um grande ator do streaming de música na China, foi forçada a abrir mão dos direitos exclusivos. Os motivos alegados pelo governo foram os mesmos: concorrência.
– Quem será o próximo? –
A China planeja reforçar as condições de listagem no exterior de suas empresas, que terão de ser infalíveis em termos de cibersegurança, de acordo com as diretrizes que estão sendo elaboradas.
A medida já começou a ter um efeito dissuasivo nas start-ups chinesas. Na quarta-feira (28), por exemplo, uma das líderes em aluguel de bicicletas, a Hello Inc., que tem o Alibaba entre seus acionistas, renunciou à abertura de capital nos Estados Unidos.