
Nova York, 23 de setembro de 2025 —
Na manhã de 18 de setembro, Santos Reyes-Banegas, um hondurenho de 42 anos, foi encontrado sem vida em uma cela do Centro Correccional do Condado de Nassau, em Nova York. Menos de 24 horas antes, ele havia sido detido pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE, na sigla em inglês) por reingresso ilegal nos Estados Unidos. A causa preliminar de sua morte, segundo a agência, foi um colapso hepático agravado por alcoolismo. A família, porém, contesta veementemente essa narrativa, exigindo respostas e justiça. Santos é o décimo sexto imigrante a morrer sob custódia de ICE em 2025, um ano que já se configura como um dos mais letais para detentos da agência.
A história de Santos começou em Honduras, onde deixou esposa e filhos em busca de uma vida melhor. Não era sua primeira tentativa de cruzar a fronteira: deportado ao menos quatro vezes, ele insistia no sonho americano, mesmo enfrentando um sistema migratório cada vez mais rígido. Na noite de 17 de setembro, após ser detido, passou por um exame médico inicial que o declarou apto para a detenção. Horas depois, a tragédia. “Ele não tinha problemas graves de saúde”, afirmou um parente em entrevista ao New York Daily News, com a voz embargada. “Queremos saber o que aconteceu de verdade.” A família lançou uma campanha no GoFundMe para custear o traslado do corpo ao seu país natal, enquanto o Consulado de Honduras foi notificado para acompanhar o caso.
O caso de Santos não é isolado. Desde o início do ano fiscal de 2025, em 1º de outubro de 2024, o ICE reportou 16 mortes em suas instalações ou durante o transporte de detentos, superando as 12 registradas em todo o ano anterior. A cada novo comunicado da agência, cresce a indignação de ativistas e organizações como a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), que apontam para condições precárias, negligência médica e falta de transparência. “Essas mortes são evitáveis”, declarou um porta-voz da ACLU. “As instalações de ICE estão superlotadas, e o cuidado com os detentos é frequentemente insuficiente.”
Entre os casos, destaca-se a morte de Jesus Molina-Veya, um mexicano de 45 anos, encontrado com sinais de suicídio em junho, na Geórgia. Ou a de Abelardo Avellaneda Delgado, também mexicano, de 68 anos, que faleceu durante um traslado — o primeiro óbito em transporte em uma década. Há ainda relatos de falhas cardíacas, overdoses e causas “sob investigação”, um termo que, para críticos, mascara a responsabilidade da agência. “O ICE opera em uma zona de opacidade”, denuncia a Associação Americana de Advogados de Imigração (AILA). “Os detentos são tratados como números, não como pessoas.”
No condado de Nassau, o caso de Santos marca um precedente sombrio: é o primeiro falecimento em uma instalação que opera sob contrato com o ICE. A administração local, pressionada por protestos, prometeu revisar o caso, mas a confiança da comunidade imigrante está abalada. “Ninguém entra numa cela esperando morrer em menos de um dia”, disse um ativista local durante uma vigília em memória de Santos.
O aumento das mortes coincide com uma escalada nas políticas migratórias sob a atual administração. Desde janeiro, o número de detenções disparou, lotando centros de detenção já criticados por condições insalubres e superlotação. Relatórios apontam que a falta de atendimento médico adequado — de exames preventivos a intervenções de emergência — é um fator recorrente. Em 2025, pelo menos dois óbitos foram classificados como suicídios aparentes, levantando questões sobre a saúde mental dos detentos.
Enquanto as investigações sobre a morte de Santos prosseguem, sua família aguarda respostas. O que deveria ser uma detenção temporária tornou-se uma tragédia definitiva, mais um capítulo de um sistema que, para muitos, falha em proteger os mais vulneráveis. “Ele era um pai, um marido, um ser humano”, disse um primo em Honduras. “Não merecia isso.”
Mortes de Imigrantes sob Custódia do ICE em 2025
Nome | Idade | Nacionalidade | Data da Morte | Localização | Causa Preliminar/Notas |
Maksym Chernyak | 44 | Ucraniana | Fevereiro de 2025 | Miami, FL | Sob investigação |
[Caso não detalhado] | – | – | Março de 2025 | San Juan, PR | Narcóticos/contrabando |
Jesus Molina-Veya | 45 | Mexicana | 7 de junho de 2025 | Lumpkin, GA | Possível suicídio (ligadura no pescoço) |
Johnny Noviello | 49 | Canadense | 23 de junho de 2025 | Miami, FL | Sob investigação |
Isidro Perez | 75 | Cubana | 26 de junho de 2025 | Miami, FL | Problemas cardíacos |
Abelardo Avellaneda Delgado | 68 | Mexicana | Junho de 2025 | Em trânsito (GA) | Sob investigação; primeira morte em transporte em uma década |
Tien Xuan Phan | 55 | Vietnamita | 19 de julho de 2025 | Karnes City, TX | Sob investigação |
Oscar Rascon Duarte | 58 | Mexicana | 8 de setembro de 2025 | Arizona | Sob investigação |
Santos Reyes-Banegas | 42 | Hondurenha | 18 de setembro de 2025 | Nassau, NY | Falha hepática (disputada pela família) |
Outros 7 casos | Varia | Varia | Janeiro a setembro de 2025 | Varia | Inclui 1 cubano (75 anos) e outros não detalhados em reportes públicos; total: 16 |
Fontes: Comunicados do ICE, The Guardian, Newsday, New York Daily News, Newsweek.