Eliana Pereira Ignacio
Dando sequência à nossa série sobre autoestima, proponho uma reflexão essencial: como aceitar o outro sem se anular? Em tempos de relações ‑ fluidas, é comum confundir acolhimento com autoabandono, e amor com sacrifício. Mas uma autoestima madura permite vínculos autênticos sem renunciar à própria essência. Nos relacionamentos — familiares, amorosos ou profissionais — o desafio é equilibrar aceitação e identidade.
A psicologia clínica aponta esse equilíbrio como base da autoestima saudável: sentir-se seguro para ser quem se é, mesmo diante da possibilidade de rejeição. Carl Rogers já dizia: “o pleno funcionamento ocorre quando a pessoa é capaz de ser ela mesma sem medo da rejeição”. Aceitar o outro, sim — mas sem se apagar.
- O Mito da Autoanulação Muitos acredita que amar é ceder sempre, tolerar tudo e carregar o que não lhes pertence. Essa crença, geralmente enraizada na infância, leva à ansiedade, ressentimento e perda de identidade. Relações saudáveis pedem presença, não renúncia de si.
- Diferenciação sem Distanciamento Segundo Murray Bowen, pessoas diferenciadas mantêm sua identidade mesmo sob tensão. Evitam tanto a fusão (moldar-se ao outro) quanto o distanciamento (fechar-se para se proteger).
O equilíbrio está em conviver sem se perder. - Limites Saudáveis Henry Cloud e John Townsend lembram: “limites de nem onde eu termino e onde o outro começa”. Sem isso, aceitação vira submissão.
É essencial reconhecer responsabilidades, separar amor de obrigação e aceitar que não controlamos tudo. - Valorizar a Alteridade A autoestima imatura exige semelhança.
A madura celebra a diferença. Winnicott afirma que estar sozinho na presença do outro é uma conquista emocional. Aceitar o outro é respeito; não se anular é amor-próprio. - Quando Aceitar Deixa de Ser Virtude Aceitar não é justificar abusos ou violências. Quando a aceitação compromete sua integridade emocional, ela deixa de ser virtude.
A autoestima madura sabe quando redefinir limites, exigir respeito ou se afastar. - Caminhos Práticos – Auto-observação: note quando cede por medo, não por escolha. – Reestruturação Cognitiva: questione crenças como “preciso dizer sim para ser amada”.
Comunicação Assertiva: expresse-se com clareza e respeito.
– Aceitação da Autonomia: o outro é responsável por si.
– Fortalecimento da Identidade: reconecte-se aos seus valores e necessidades.
Conclusão Aceitar o outro sem se anular é um ato de maturidade emocional. Requer coragem e consciência, mas resulta em relações mais leves e verdadeiras. O amor não exige apagamento — exige presença.
“Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” — Provérbios 4:23
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com


