
Washington, 15 de dezembro de 2025 – A Administração de Donald Trump intensificou sua campanha de deportações em massa ao utilizar dados de passageiros aéreos para localizar e deter imigrantes com ordens finais de expulsão, mesmo em voos domésticos dentro dos Estados Unidos. Revelado por uma investigação do The New York Times em 12 de dezembro, o programa secreto permite que a Administração de Segurança no Transporte (TSA) compartilhe listas completas de viajantes com o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) várias vezes por semana.
Desde março de 2025, a TSA envia esses dados – que incluem nomes completos, datas de nascimento e itinerários – para o ICE, que os cruza com sua base de dados de pessoas sujeitas a deportação. Quando há coincidência, agentes são enviados aos aeroportos para realizar prisões antes mesmo do embarque. Historicamente, a TSA limitava o uso desses dados a verificações antiterrorismo, sem envolvimento em questões migratórias domésticas.
O governo defende a medida como necessária para reforçar o cumprimento das leis migratórias. Uma porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS), Tricia McLaughlin, afirmou que “a mensagem para quem está ilegalmente no país é clara: a única razão para voar é se autodeportar”. Autoridades federais destacam que o programa ajuda a identificar indivíduos que, de outra forma, passariam despercebidos, e faz parte de um esforço mais amplo para alcançar metas ambiciosas de deportações.
Caso emblemático: deportação de estudante universitária
Um exemplo concreto é o da hondurenha Any Lucía López Belloza, de 19 anos, estudante do primeiro ano na prestigiada Babson College, em Massachusetts. Em 20 de novembro, ela foi detida no Aeroporto Logan, em Boston, ao tentar embarcar em um voo doméstico para o Texas, onde planejava surpreender a família pelo Dia de Ação de Graças. Apesar de viver nos EUA desde os 7 anos e não ter antecedentes criminais, Belloza foi deportada para Honduras dois dias depois.
Documentos internos obtidos pelo NYT mostram que sua prisão foi acionada pelo programa de compartilhamento de dados. Seu advogado, Todd Pomerleau, alega que a deportação violou uma ordem judicial que proibia sua remoção do país. Um ex-funcionário do ICE estimou que até 75% das alertas geradas pelo sistema resultam em prisões efetivas em algumas regiões.
Complemento com dados fiscais e outras fontes
O programa aeroportuário se soma a outras iniciativas de intercâmbio de informações. Em 7 de abril de 2025, o Serviço de Impostos Internos (IRS) assinou um memorando de entendimento com o ICE, permitindo o acesso a nomes, endereços e dados fiscais de pessoas com ordens de deportação ou sob investigação migratória. Embora partes do documento permaneçam censuradas, especialistas criticam a quebra da confidencialidade fiscal tradicional.
Essas ferramentas combinadas – listas de passageiros da TSA, registros migratórios e agora informações do IRS – criam um sistema de localização com precisão inédita, permitindo que o ICE mapeie movimentos e residências de imigrantes com processos pendentes.
Reações e preocupações
Organizações de direitos civis e defensores de imigrantes expressam alarme com o alcance da prática. Grupos como a New York Immigration Coalition alertam para um “clima de medo” que afeta não só indocumentados, mas também cidadãos e residentes legais, devido ao risco de erros em cruzamentos de dados ou detenções equivocadas. Críticos argumentam que isso pode violar direitos constitucionais de privacidade e dissuadir viagens, impactando famílias mistas e a economia.
Advogados migratórios recomendam cautela: antes de voar, consultar um especialista para verificar ordens pendentes e preparar planos de emergência, como contatos familiares e documentos essenciais. Em aeroportos, imigrantes retêm direitos básicos, como permanecer em silêncio, solicitar um advogado e não assinar documentos sem assessoria.
Embora o número exato de prisões via esse programa não tenha sido divulgado, relatos indicam um aumento significativo nas detenções aeroportuárias. A medida marca uma mudança drástica em relação a administrações anteriores, transformando o transporte aéreo doméstico em uma ferramenta chave para a maior operação de deportações da história dos EUA.


