Da Redação ( Com Deutsche Welle) –
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desfez muitas das principais conquistas da política climática ao longo de seu mandato. Ele abandonou, por exemplo, o Acordo de Paris, destinado a limitar o aquecimento global, e eliminou várias regulamentações ambientais da era Obama.
Seu oponente democrata, Joe Biden, por sua vez, prometeu, como parte de sua campanha presidencial, investir 1,7 trilhão de dólares numa “revolução de energia limpa e justiça ambiental” na próxima década. O montante fica cerca de 14 trilhões de dólares aquém do que o senador comunista americano de Vermont Bernie Sanders havia prometido para a ação climática durante as primárias democratas.
As mudanças climáticas, porém, não estão sequer entre as 10 principais preocupações dos eleitores registrados, e isso apesar de os EUA enfrentarem atualmente condições climáticas extremas, desde incêndios florestais até tempestades – algo que os cientistas atribuem às mudanças climáticas. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center publicada em agosto, o assunto aparece somente em 11º lugar, atrás de economia, saúde, indicações para a Suprema Corte e pandemia.
Embora o clima não esteja no topo da agenda dos eleitores, ainda é uma das questões mais polêmicas entre os apoiadores de Trump e Biden. Cerca de 68% dos eleitores democratas veem as mudanças climáticas como um assunto de alta prioridade, em comparação com 11% dos republicanos, descobriu o levantamento.
Mas o que as campanhas de Biden e Trump prometem fazer em relação às mudanças climáticas e ao meio ambiente – e como isso se coaduna com o que os eleitores desejam?
Biden – uma decepção climática?
Biden, que foi vice-presidente no governo de Barack Obama, planeja restabelecer o compromisso com o Acordo de Paris e garantir que os EUA alcancem uma economia de energia 100% limpa, zerando as emissões líquidas até 2050. Biden também prometeu uma suspensão dos subsídios aos combustíveis fósseis, indo além do Comitê Nacional Democrata, o órgão governante dos democratas, que no início do mês retirou tal exigência de sua plataforma.
Antes do anúncio de Kamala Harris como vice na chapa de Biden, a senadora da Califórnia já havia manifestado claro apoio a uma ação climática mais ousada. Harris co-patrocinou o New Green Deal, conclamando o Congresso a implementar uma mobilização governamental de 10 anos para descarbonizar a economia, ao mesmo tempo que apoiava a reciclagem profissional e a justiça social e ambiental.
Mas alguns eleitores democratas estão decepcionados com a chapa Biden/Harris, acreditando que Sanders, que desistiu da corrida democrata à presidência em abril, seria o melhor candidato.
“Tenho 2 filhos, e portanto, tenho que me manter atenta e otimista. Mas perdi muitas esperanças, pois Bernie Sanders não ganhou“, disse Karen Antunes, enquanto fazia um piquenique com os filhos e o cachorrinho da família no Peninsula Park, em Portland, Oregon. Isso não a impedirá, porém, de votar no democrata.
“Temos que fazê-lo. Essa história de Trump tem que acabar“, acrescentou Antunes. “Mas não estou empolgada.”
A maioria dos eleitores progressistas, como Antunes, preferiria, provavelmente, unir-se a Biden contra a reeleição de Trump, mesmo que não vejam nele um compromisso grande o suficiente com a mudança climática.
“Não acho que as diferenças entre Biden e Sanders na questão do meio ambiente – ou em quaisquer outras questões – importem muito para os eleitores democratas em comparação com a diferença entre Biden e Trump“, disse Stephen Ansolabehere, diretor do Centro para Estudos Políticos Americanos na Universidade de Harvard.
Republicanos: economia na frente das mudanças climáticas
Nos últimos anos, Donald Trump fez pouco caso das mudanças climáticas, acusando-as de serem uma “farsa” sem conexão com a ação humana, além de chamar os ativistas ambientais de “profetas perenes da desgraça“.
A agenda eleitoral de 63 pontos do presidente americano, dividida em categorias como “Empregos“, “Erradicar a covid-19” e “Acabar com nossa dependência da China“, não faz nenhuma menção direta às mudanças climáticas ou ao meio ambiente.
Em vez disso, escondidas sob o título “Inovar para o futuro“, quase no final da lista, aparecem duas promessas: “Manter a liderança mundial no acesso à mais limpa água potável e ao mais limpo ar” e “Parceria com outras nações para limpar os oceanos do nosso planeta.” O plano, contudo, não descreve nenhuma estratégia para tal.
A falta de menção às mudanças climáticas na agenda de Trump pode agradar a muitos eleitores republicanos, já que eles são “obviamente menos favoráveis a regulamentações“, disse Daron Shaw, professor especializado em comportamento eleitoral da Universidade do Texas, em Austin, e codiretor da pesquisa da Fox News.
“Os democratas estão muito mais dispostos a tomar medidas mais enérgicas”, disse Shaw, acrescentando que poucos republicanos apoiam políticas como a introdução de um imposto significativo sobre carbono ou combustível fóssil. “Mas se perguntarmos aos republicanos sobre reciclagem ou sobre os padrões de eficiência de combustível, eles apoiam bastante esse tipo de comportamento menor.”
Impaciência entre jovens republicanos
Alguns republicanos da ala mais jovem estão começando a questionar a omissão de seu partido em relação à mudança climática. Na recente Convenção Nacional Republicana, um pequeno grupo recorreu ao Twitter durante o evento online para perguntar “#WhatAboutClimate“?
Outro estudo do Pew, datado de junho de 2020, descobriu que a Geração Y e os republicanos da Geração Z, atualmente na faixa entre 18 e 39 anos, são mais propensos do que os eleitores mais velhos do Partido Republicano a acharem que os humanos têm um impacto significativo no clima e que o governo federal está fazendo muito pouco para resolver o problema. Isso não significa que eles estão prontos para mudar de partido.
“Ser republicano está muito enraizado na minha educação“, diz Kiera O’Brien, que fundou o grupo Jovens Conservadores pelos Dividendos de Carbono (YCCD, na sigla em inglês). “O conservadorismo lá de onde venho, em Ketchikan, no Alasca, concentra-se na comunidade e na natureza.”
O’Brien não gosta da “abordagem regulatória do clima” dos democratas e, em vez disso, está fazendo lobby por soluções de mercado livre para as mudanças climáticas por meio do YCCD.
Reformulando a ação climática
As políticas ambientais podem ser uma questão complicada quando se trata de eleições federais, além de um tema de difícil abordagem para os candidatos presidenciais. Muitas regiões dos EUA enfrentam desafios particulares: desde incêndios florestais na Califórnia, tempestades que aniquilam as colheitas em Iowa, até poluição da água em Flint, Michigan.
Ansolabehere, de Harvard, também apontou que a oposição às políticas climáticas no passado estava tipicamente ligada ao medo de perder empregos e que proibir o carvão ou reequipar a indústria automobilística “afetará negativamente o emprego” em lugares como Kentucky e Michigan.
Daron Shaw acrescentou que os republicanos normalmente “tentam enquadrar as questões ambientais como uma questão de alta tributação e propostas de eliminação de empregos, na esperança de que possam derrubar os democratas“.
Biden pode estar tentando amenizar os temores de que lidar com a mudança climática equivale a perda de postos de trabalho, enquadrando seu plano como uma oportunidade de emprego em novas indústrias e um setor manufatureiro verde revigorado.
Mas quando se trata dos estados indecisos da Pensilvânia, Virgínia e Ohio, o histórico climático de Trump e seu apoio a empregos no setor de combustíveis fósseis podem representar uma vantagem ao republicano. Seu apoio às usinas de craqueamento de etano, que usam gás natural como base na fabricação de plásticos, foi muito bem aceito, sobretudo pelos sindicatos locais, disse Ansolabehere.