Da Redação – Na manhã de terça-feira, 18 de março de 2025, um sentimento de apreensão tomou conta das comunidades imigrantes de Chelsea, cidade na região da Grande Boston, à medida que notícias de múltiplas detenções realizadas por agentes federais se espalhavam pelas redes sociais.
No estacionamento do Market Basket, situado na Everett Avenue, autoridades federais algemaram um homem e o conduziram a uma van preta sem identificação. Os uniformes dos agentes, marcados com insígnias oficiais, indicavam tratar-se de membros das forças de segurança nacional. Ao mesmo tempo, um empreiteiro local relatou que três de seus funcionários foram detidos enquanto se dirigiam a um canteiro de obras. Em outro ponto da cidade, agentes estabeleceram presença em um movimentado cruzamento defronte à prefeitura, enquanto uma conhecida organização sem fins lucrativos, dedicada ao auxílio de imigrantes, anunciou a ativação de um “plano emergencial” diante das incursões imigratórias.
Jose Orellana, há cerca de 25 anos à frente de uma empresa de pintura em Chelsea, jamais havia enfrentado situação semelhante até essa manhã. Por volta das 6h30, enquanto conduzia sua van rumo a um trabalho em Needham, no condado de Norfolk, agentes federais interceptaram o veículo.
BREAKING: ICE vehicles have been spotted in Chelsea rounding up illegal aliens this morning. pic.twitter.com/fYcfTlZo1h
— Bostonians Against Mayor Wu (@AntiWuCoalition) March 18, 2025
Após confirmarem sua cidadania americana mediante apresentação da carteira de motorista, os oficiais passaram a exigir documentos dos trabalhadores que o acompanhavam. Diante da ausência de papéis que comprovassem sua regularidade no país, os três foram presos, conforme Orellana relatou em uma conversa telefônica. “Estacionaram atrás do meu caminhão e pediram minha licença”, disse o empreiteiro, de 53 anos, visivelmente abalado. “Sinto-me profundamente triste”, acrescentou, descrevendo os detidos como “homens extremamente trabalhadores”, que buscavam apenas sustentar suas famílias. Não há informações claras sobre eventuais antecedentes criminais dos envolvidos.
Por volta das 9h, mais de meia dúzia de agentes federais foram avistados no fundo do estacionamento do Market Basket, trajando coletes identificados com siglas de diversas agências federais — entre elas, o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), a divisão de Investigações de Segurança Interna (HSI) e o Bureau de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF).
Representantes dessas instituições optaram por não comentar as operações em curso.
Logo após, diversas viaturas chegaram ao cruzamento das avenidas Washington e Chestnut, em frente à prefeitura. Agentes, com coletes marcados como ATF, HSI e “Agente Federal”, desceram dos veículos e se aproximaram de um edifício residencial. Após breve espera à porta, retornaram sem conceder entrevistas a um jornalista presente.
Imagens divulgadas no Facebook naquela manhã sugerem que agentes interagiram com pessoas naquele mesmo cruzamento. Fidel Maltez, administrador municipal, declarou que o ICE atua de forma autônoma e que Chelsea não participou das ações federais, limitando-se a ser informada pela polícia local, que se absteve de qualquer envolvimento.
A organização La Colaborativa, reconhecida como uma entidade de suporte essencial para os imigrantes de Massachusetts, alertou nas redes sociais sobre a presença do ICE e anunciou medidas emergenciais. Gladys Vega, sua diretora-executiva, estima que entre seis e sete pessoas foram detidas em Chelsea naquele dia, embora tais números careçam de confirmação independente. Ela destacou que um dos presos da van de Orellana possuía status legal e permissão de trabalho, fato que, segundo Vega, agrava o desespero nas comunidades locais. “Eles estão aterrorizados”, afirmou.
Prisões como essas, prosseguiu Vega, corroem a confiança em cidades como Chelsea. Muitos imigrantes, temerosos, deixam de levar os filhos à escola, cancelam consultas médicas ou evitam frequentar a igreja, receando encontros com as autoridades. “É um efeito cascata de proporções inimagináveis”, lamentou.
O pânico persiste em cidades moldadas por políticas migratórias, especialmente nas primeiras semanas da administração do presidente Trump, que prometeu deportações em massa. Recentemente, mais de 200 imigrantes foram enviados a El Salvador, sob alegação de vínculo com a gangue Tren de Aragua, apesar de tentativas judiciais de barrar tais medidas. O governo também propôs o fim da cidadania por nascimento, a suspensão do reassentamento de refugiados e a criação de forças-tarefa para coordenar deportações com autoridades locais.
Há décadas, Chelsea acolhe populações imigrantes, especialmente desde os anos 1980, quando milhares de refugiados de El Salvador, Honduras e Guatemala, fugindo de guerras e violência, ali se estabeleceram, transformando a cidade em um refúgio latino.
Com Informações: Associated Press – Boston Globe – Boston 25