
Boston, 23 de Dezembro de 2025
Um número crescente de cidadãos americanos tem buscado uma segunda cidadania, principalmente por descendência ancestral, em meio às incertezas políticas e sociais geradas pela segunda administração de Donald Trump. O fenômeno, que ganhou força desde a eleição de 2024, transforma o que outrora era visto como sinal de deslealdade em uma medida prudente de “seguro” ou “rota de fuga”, diante de temores de retrocessos em direitos civis, endurecimento das políticas imigratórias e instabilidade geral no país.
Os principais motivos incluem apreensões com perdas em direitos LGBTQ+ e reprodutivos, aumento do antissemitismo e da discriminação racial, além da influência de agendas conservadoras como o Project 2025, que prevê cortes em saúde, educação e programas sociais. Países europeus como Irlanda, Itália, Alemanha e Croácia estão entre os mais procurados, graças à facilidade do jus sanguinis – o direito por sangue. Outros destinos incluem México e nações africanas, conforme as origens familiares.
Relatos apontam para um crescimento expressivo nas consultas: aumentos de até 500% em aplicações por descendência desde 2023, com explosões de até 1000% em serviços de assessoria imigratória e programas de cidadania por investimento. Jovens das gerações Z e millennials lideram o movimento, priorizando mobilidade global e acesso a benefícios como sistemas de saúde públicos na Europa.
Do outro lado do Atlântico, um fenômeno semelhante ocorre no Brasil, mas com motivações predominantemente econômicas e práticas. Milhares de brasileiros buscam cidadania europeia – especialmente portuguesa, italiana e alemã – impulsionados pela busca por estabilidade financeira, melhores oportunidades de trabalho e estudo, mobilidade na União Europeia e qualidade de vida superior. Dados recentes mostram explosão nos pedidos: entre 2020 e 2025, Portugal recebeu mais de 1,5 milhão de solicitações de nacionalidade, com brasileiros representando cerca de 45% das aprovações online em anos recentes. Na Itália, houve crescimento de 11% nos registros de descendentes brasileiros em 2024, e empresas especializadas relatam aumentos de até 400% na demanda.
Enquanto nos Estados Unidos as motivações são diversas e fortemente ligadas a questões políticas – como polarização, medo de retrocessos em liberdades individuais e instabilidade democrática –, no Brasil o foco é mais econômico: custo de vida mais acessível na Europa, acesso a empregos qualificados, educação de qualidade e planejamento fiscal. Muitos brasileiros veem o passaporte europeu como porta de entrada para o bloco econômico da UE, facilitando residência e trabalho sem vistos. Além disso, programas de cidadania por investimento no Caribe também atraem brasileiros em busca de otimização tributária e mobilidade global.
Nos dois países, a dupla cidadania reflete uma reconexão com raízes ancestrais e uma estratégia para lidar com incertezas futuras. Nos EUA, predomina o tom de “plano B” contra riscos políticos; no Brasil, é uma aposta em ascensão social e econômica. Em ambos os casos, o movimento revela uma desilusão parcial com o país de origem e uma visão mais globalizada do futuro, com jovens liderando a tendência de múltiplas nacionalidades como forma de proteção e oportunidade. Do lado oposto, propostas como o Exclusive Citizenship Act nos EUA enfrentam resistências, enquanto em países europeus como Portugal há tentativas de endurecer regras para imigrantes, incluindo brasileiros.


