COM ESTADÃO – G1 – R7.
Na semana passada, 53 brasileiros ficaram abrigados na Casa do Migrante, um centro católico que abriga imigrantes que tentaram entrar nos Estados Unidos e foram mandados de volta para o México. O abrigo fica Ciudad Juárez, a 4 quilômetros da fronteira com os Estados Unidos. Esses brasileiros são os primeiros indocumentados que foram enviados ao México, este procedimento era reservado principalmente a centro-americanos, especialmente hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos.
O México, no entanto, não concordou em receber africanos, indianos ou asiáticos – apenas latino-americanos.
A medida faz parte do esforço do governo americano para diminuir o número de solicitações de asilo, no momento em que Trump disputa a reeleição e precisa mostrar resultados concretos no combate à imigração ilegal, sua grande bandeira de campanha.
Angustiados e confusos, esses brasileiros dizem ter sido maltratados na prisão americana, onde, segundo eles, passaram frio, fome em celas superlotadas.
Autoridades americanas (Serviço de Imigração e Alfândegas – ICE), afirmam que o número de brasileiros detidos na fronteira sul dos EUA disparou de 1.504, no ano fiscal de 2018 (de 1.º de outubro de 2017 a 30 de setembro de 2018), para 17.893, no ano fiscal de 2019, quase 12 vezes mais – um recorde.
Os dados mais atuais, referentes aos primeiros meses do ano fiscal de 2020 (outubro, novembro e dezembro de 2019), mostram as prisões ainda em alta: foram 4.469 detenções no trimestre, três vezes mais que em todo o registro de 2018.
A maioria entra por El Paso, no Texas, cidade gêmea de Juárez, do lado mexicano. Segundo dados oficiais, existem hoje 28.316 brasileiros com ordem de deportação nos EUA, dos quais 983 já foram condenados. Há ainda 313 sob custódia do ICE com ordem final de deportação autorizada.
As histórias de maus tratos contadas por imigrantes ilegais detidos nas fronteiras americanas são comuns, não apenas brasileiros, mas por quase todos aqueles que tiveram suas viagens interrompidas pelas autoridades americanas. Apesar de tais relatos, o governo americano defende as prisões. O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, considerou exagerados na imprensa essas narrativas que comparam os centros de detenção de imigrantes dos Estados Unidos a “campos de concentração”.
Em janeiro, quando o governo americano passou a incluir os brasileiros no grupo de enviados ao México o governo brasileiro, expressou, pelo chanceler Ernesto Araújo, que “não ira questionar as ações dos EUA”. E na semana passada, em Washington, o chanceler evitou reclamar do tratamento dado aos brasileiros em encontro com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
O Itamaraty informou na semana passada que o consulado na Cidade do México não havia recebido pedidos de auxílio de brasileiros que foram, enviados de volta ao México, e que esses poderiam ficar regularmente no território mexicano pelo tempo estabelecido pela lei de imigração daquele país. Nos bastidores, diplomatas brasileiros dizem que estão em contato com autoridades mexicanas e americanas e garantem que houve mobilização interna para dar algum tipo de assistência consular aos brasileiros.