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Há milhões de vocês que, neste 27 de novembro de 2025, sentam-se à mesa sem poder pronunciar em voz alta as palavras que o feriado pede.
Não podem publicar a fotografia da família reunida, pois falta alguém: um filho retido na fronteira, um irmão deportado, um pai que não conseguiu atravessar.
Não podem telefonar para a terra natal sem antes verificar se o número é seguro.
Não podem voltar ao enterro da mãe ou ao batizado do sobrinho, porque sabem que a porta de saída seria também a porta de entrada definitiva para o exílio.
Vivem com o telefone em modo silencioso, o coração em alerta permanente, a gratidão engasgada na garganta.
Contudo, permitam-me recordar-vos uma verdade que não depende de lei, de governo ou de documento: vocês já têm muito pelo que agradecer.
Agradecem porque estão vivos, quando tantos ficaram pelo caminho.
Agradecem porque os filhos frequentam escolas onde recebem refeições e aprendem a língua que abrirá portas que vocês nunca ousaram sonhar.
Agradecem porque, mesmo sem nome no contracheque, constroem as casas onde outros moram, colhem os frutos que outros comem, cuidam dos jardins que outros admiram.
Agradecem porque, em algum momento, uma professora, um vizinho, um padre, uma enfermeira ou um desconhecido qualquer escolheu acolher-vos em silêncio. Há uma frase de Cristo que muitos americanos repetem hoje com a boca cheia de peru, mas que poucos compreendem em profundidade: “Tive fome e me destes de comer; era peregrino e me acolhestes.” (Mateus 25, 35)
Vocês são esse peregrino.
E, mesmo que a porta oficial esteja cerrada, já fostes acolhidos por milhares de pequenas portas que se abriram quando ninguém olhava: a da igreja que serve sopa aos sábados, a da escola que guarda uma marmita extra, a do patrão que paga em dinheiro e nunca pergunta o sobrenome completo.A história deste país foi sempre escrita por quem chegou de mãos vazias e continuou batendo até que a porta cedesse.
Vocês não são uma interrupção dessa história; são o seu capítulo mais recente.Um dia — e esse dia chegará — poderão dizer “obrigado, América” sem baixar a voz.
Um dia poderão reunir toda a família à mesma mesa, tirar a fotografia, publicar sem medo, viajar e regressar.
Até lá, agradecei em silêncio, mas agradecei com firmeza.
A cada desenho que o filho traz da escola, a cada pagamento que entra na conta, a cada gesto discreto de humanidade que recebestes.Porque a gratidão que nasce no silêncio é a mais poderosa de todas: não precisa de permissão para existir.
Feliz Dia de Ação de Graças.
Que a mesa seja pequena hoje, mas que a esperança seja imensa.
O coração que bate dentro de vocês já possui cidadania plena — e nenhum decreto pode deportá-lo.
Com respeito e solidariedade.


