Da Redação (Com Valor, UOl, FOLHAPRESS) –
Jair Bolsonaro não tem se mostrado um bom puxador de votos. Candidatos a prefeito apoiados explicitamente por ele enfrentam dificuldades, mostram as pesquisas.
Os escolhidos são figuras de diferentes partidos que passaram a ser citados nominalmente pelo presidente em “lives” ou vídeos gravados. No grupo, quem não apresenta tendência de queda está estagnado na disputa. Quase todos distantes do primeiro colocado.
O caso mais vistoso é o do deputado Celso Russomanno (Republicanos), que passou semanas como líder em São Paulo. Ele chegou a ter 29% num levantamento do Datafolha em setembro. No fim de outubro, recebeu apoio de Bolsonaro numa transmissão: “Estamos aqui com CR10, Celso Russomanno, em São Paulo. Eu conheço ele há muito tempo. Foi deputado federal comigo. E eu sou capitão do Exército, né? Ele é tenente R2 da Aeronáutica. Então, um capitão do Brasil e um tenente na Prefeitura de São Paulo. Celso Russomanno é minha pedida para São Paulo”.
Quando o vídeo foi divulgado, Russomanno já dava sinais de desgaste, mas ainda em empate técnico com Bruno Covas (PSDB) na liderança. Agora, no estudo mais recente, caiu para 12%. Está numericamente atrás de Guilherme Boulos (Psol), com 13%, e pouco à frente de Márcio França (PSB), 10%.
Já Crivella, estagnado nas pesquisas, foi a Brasília para conseguir gravar com o presidente um vídeo de apoio à campanha.
No Rio, embolado no segundo lugar nas pesquisas com a Delegada Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT), Crivella afirma diariamente ser o candidato de Bolsonaro, o nome da direita e o suposto defensor do conservadorismo e da religião.
Já em Belo Horizonte, a perspectiva de Bruno Engler de chegar à Prefeitura é ainda pior. Embora destaque imagens e vídeo com Bolsonaro, além de espalhar a expressão “Fechado com Bolsonaro” nas redes sociais, ele conta com apenas 3% das intenções de voto. O atual prefeito e candidato à reeleição, Alexandre Kalil (PSD), lidera com 63%.
Ao comentar sobre a situação de Engler em Belo Horizonte nesta semana, Bolsonaro afirmou que vai atuar “discretamente” na campanha, mas disse não ter condições de ir à capital mineira por falta de dinheiro e segurança.
Em Salvador, Cézar Leite (PRTB) tem 1% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada ontem. Assim como Engler, Leite é do mesmo partido que o vice-presidente da República e chegou a gravar campanha ao lado de Hamilton Mourão —no qual é chamado de aliado de Bolsonaro.
Já em Manaus, há uma disputa entre candidatos para se venderem como o favorito do presidente, embora nenhum deles tenha deslanchado, como Capitão Alberto Neto (Republicanos) e Coronel Alfredo Menezes (Patriota). Eles têm 9% e 5% das intenções de voto, respectivamente, mostra a última Ibope divulgada nesta quarta (28).
A situação mais favorável para um candidato de Bolsonaro é em Fortaleza, onde Capitão Wagner (Pros) lidera as intenções de voto com 33% contra 24% da segunda colocada, Luizianne Lins (PT), de acordo com pesquisa Datafolha apresentada em 17 de outubro. Porém, diferentemente do que ocorre com candidatos em outras capitais, menções de Wagner a Bolsonaro o Ceará são escassas.
Para o cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Lúcio Rennó afirma que a dinâmica local das cidades é o que rege a eleição municipal e não se deve esperar que um presidente da República tenha influência tão marcante no pleito para prefeitos.
Por outro lado, Rennó destaca o crescimento de candidatos alinhados a posições conservadoras como influência indireta do bolsonarismo. “Cada estado, cada cidade tem um Bolsonaro para chamar de seu. Mesmo que não tenha o apoio declarado dele“, afirma.
“O problema é deles mesmo. Crivella tem várias acusações contra ele. Russomanno sempre morre na praia. São o que chamam de missão impossível. Você tem até o caso do Lula tentando levantar Jilmar Tatto, sem sucesso“, cita.
Para Rennó, Bolsonaro está numa situação conveniente, pois não se poderá falar que ele ganhou ou perdeu nas eleições sem estar vinculado a uma sigla. O cientista político também lembra que o presidente foi eleito sem uma rede de prefeitos consolidada e avalia que isso não deverá fazer diferença para uma eventual reeleição.