AFP – O verão foi difícil para Joe Biden, mas, com a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, o inquilino da Casa Branca espera agora relançar internamente sua problemática presidência.
Desde o caos inicial, em que afegãos tentavam se agarrar aos aviões americanos que deixavam Cabul, até a morte de 13 militares americanos entre as mais de 100 vítimas de um atentado suicida na quinta-feira passada, a evacuação da capital afegã, controlada pelos talibãs, foi traumática. O quanto isso prejudicou Biden politicamente é uma pergunta que se repete na Casa Branca, no Congresso e no país, dividido.
Biden, ex-senador e ex-vice-presidente, sempre se gabou de sua experiência em política externa. Mas com aliados próximos, como a Grã-Bretanha, incomodados com sua retirada abrupta do Afeganistão, e a China ironizando a política externa americana, essa experiência se vê manchada.
Alguns republicanos exigem um julgamento político e renúncias no governo. Veículos de comunicação de direita, como a popular rede Fox News, promovem uma imagem de Biden, 78, como incapaz de enfrentar uma crise.
Mesmo veículos geralmente mais amigáveis, como a CNN, criticaram o desempenho do presidente no Afeganistão. No entanto, muitos analistas acreditam que o desinteresse tradicional dos americanos pelo que acontece além de suas fronteiras evitará consequências de longo prazo para Biden.
“Em geral, a política externa não é uma grande preocupação, a menos que haja uma grande crise na época das eleições, como uma guerra prestes a começar”, disse David Karol, professor de política na Universidade de Maryland. “A ideia de que este é o fim da presidência é exagerada.”
Frente interna
Com os Estados Unidos fora dos combates no Afeganistão, Biden espera poder transferir os recursos de seu governo para o front doméstico. Ele sempre teve a intenção de reconstruir o país, tomando emprestada a abordagem de seu antecessor Donald Trump, de encerrar as “guerras intermináveis” posteriores ao 11 de Setembro, para poder fazê-lo.
Mas ao contrário de Trump, Biden tem uma estratégia: um plano ambicioso para injetar mais de US$ 4 trilhões em infraestrutura e nos projetos sociais do país. Contrariando todas as expectativas, os dois pacotes passaram pelo Senado e aguardam a votação na Câmara dos Representantes, ainda que a pequena maioria que o partido democrata tem ali não garanta a sua aprovação final.
O fantasma do Afeganistão
Novas pontes, ensino gratuito ampliado e um aumento das redes para carregar veículos elétricos “significarão mais para o povo americano do que o Afeganistão, daqui a seis meses”, aponta o professor de história e política na Universidade Americana Allan Lichtman.
Mas o plano de Biden pode não ser aprovado no Congresso. Ele também pode pagar o preço pelo aumento das infecções pela variante delta do novo coronavírus, após dar a impressão inicial de ter a pandemia sob controle.
James Jay Carafano, especialista em segurança nacional do centro de análises conservador Heritage Foundation, alerta que o Afeganistão será como uma “praga” para Biden. “E se os talibãs convidarem a Al-Qaeda a retornar, retomando a parceria que deu origem aos ataques de 11 de setembro de 2001? E se os americanos que permanecem no Afeganistão forem feitos reféns? Este governo não irá se livrar do problema Afeganistão”, prevê.
Segundo Carafano, além de enfrentar mais ameaças externas após a derrota no Afeganistão, Biden também irá observar uma redução de sua autoridade dentro de casa. “Acho que irá tornar os problemas domésticos mais difíceis, porque as pessoas dirão que ele é bastante incompetente.”