BBC – A cena vista pelos paramédicos de Tijuana ao entrar no bar ‘La Perla’, nas primeiras horas da manhã, foi pesada. Dois homens estavam inconscientes – um homem corpulento esparramado no chão, seu amigo caído em uma cadeira – e com a vida por um fio. Mais uma vez, os serviços de emergência da cidade tinham sido chamados após uma suspeita de overdose de fentanil – algo cada vez mais comum nos turnos noturnos, segundo o paramédico Gabriel Valladares. “Está piorando. Estamos vendo cada vez mais, e é sempre fentanil”, diz ele.
O opioide sintético é 50 vezes mais forte que a heroína e tem dificultado bastante o trabalho dos paramédicos.
Integrantes da equipe de paramédicos rapidamente iniciaram a massagem cardíaca nos dois pacientes, enquanto outros prepararam doses de Narcan, o medicamento mais eficaz para reverter uma overdose de fentanil.
Os dois homens talvez não soubessem que estavam tomando fentanil. Como o opioide é barato e fácil de produzir e transportar, os cartéis de drogas mexicanos começaram a misturá-lo a drogas recreativas como a cocaína.
Uma ‘epidemia’
A cidade fronteiriça mexicana sofre com uma grande epidemia de drogas. Mas o presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, minimiza a extensão do problema.
“Não produzimos fentanil aqui. Não consumimos fentanil aqui”, disse ele no ano passado. Após a fala polêmica, ele prometeu apresentar nova legislação ao Congresso para proibir o consumo de fentanil e outros opiáceos sintéticos.
Os que trabalham na linha de frente de Tijuana temem que isso seja pouco ou chegue tarde demais.
O diretor dos serviços forenses do Estado, César González Vaca, conta que há mais de um ano seu departamento testa todos os cadáveres que chegam aos necrotérios em duas cidades fronteiriças, Mexicali e Tijuana, para detectar a presença de fentanil.
O estudo mostrou que cerca de um em cada quatro corpos em Mexicali continha fentanil, diz ele, e em julho passado, as estatísticas para Tijuana eram de um em cada três.
“Parece que quanto mais perto estamos da fronteira, mais vemos o consumo dessa droga”, explica González Vaca. “Infelizmente, não podemos comparar com outros Estados da República, pois, na Baixa Califórnia, somos o primeiro Estado a realizar esse estudo”, acrescenta, incentivando os seus pares de todo o país a ajudarem a construir um quadro nacional mais claro.